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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Minhas leituras na pandemia e as escolas

Penso no Brasil, que viu agravar-se o quadro de profunda desigualdade educacional

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Como muitos outros, tenho intensificado minhas leituras durante este período de isolamento social em que vivemos. Foquei inicialmente em temas que dialogavam com a pandemia, naturalmente para além do que leio dentro do meu campo de atuação profissional, mas o tempo fez diversificar as obras, tanto em ficção como em não ficção. E, curiosamente, deparo-me em quase todos eles com relatos de escolas e aprendizagens de crianças e jovens.

Li, há pouco tempo, "Meio Sol Amarelo", de Chimamanda Ngozi, em que pude revisitar a guerra de Biafra, um evento separatista na Nigéria, que me marcou no final dos anos 1960 pelas tristes fotos de crianças em situação de extrema subnutrição.

A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie - Victor Ehikhamenor

Nessa obra ficcional, inspirada nos relatos de seus avós, a autora conta como, na impossibilidade de funcionamento de escolas formais, a principal personagem, Olanna, decide improvisar aulas ao ar livre para que as crianças não deixassem de aprender. Uniu-se a ela nesse contexto o jovem Ugwu, convertido em professor numa idade pouco maior que a dos alunos. Ao ler o livro, naturalmente pensei nos alunos brasileiros, que viram agravar-se o quadro de profunda desigualdade educacional devido ao isolamento decorrente da Covid, e emocionou-me esse esforço para não interromper a aprendizagem, mesmo que em condições distantes das ideais.

Outra leitura minha neste período foi "Uma Terra Prometida", livro de memórias da presidência de Barack Obama. Ali também aparecia o relato impactante de uma experiência de aprendizagem, na narrativa de Elie Wiesel, que Obama acompanhou numa visita a Auschwitz, sobre como, mesmo no campo de extermínio, os adultos consideraram um dever dar aulas aos adolescentes. Afinal, onde há educação há vida!

Mas foi no livro de um jovem autor baiano, o Itamar Vieira Júnior, "Torto Arado", que encontrei dois eventos que se contrapunham: o empenho de Zeca Chapéu Grande, o líder do jerê, religião afro-brasileira praticada na Chapada Diamantina, analfabeto e sábio, pela construção de uma escola na fazenda de Água Negra e o abandono dos estudos por Belonísia, uma das fortes personagens femininas do livro, pois a professora não "sabia por que estávamos ali, nem de onde vieram nossos pais, nem o que fazíamos".

O texto é ficcional, mas o abandono escolar é uma realidade concreta de milhões de brasileiros. Afinal, 20% das pessoas de 14 a 29 anos no Brasil não terminaram alguma das etapas da educação básica. Isso no período anterior à pandemia. Para mudar esse quadro, todos precisam se engajar na construção de uma escola de qualidade que não deixe ninguém para trás.

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