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Diretora do Centro de Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.

Cortes na educação

Na educação básica, investimos menos da metade por aluno do que a média da OCDE

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Tivemos, nesta semana, o Dia Mundial da Educação, data estabelecida pela ONU para mobilizar as sociedades pelo direito dos povos a uma educação de qualidade para todos. Por conta da efeméride, o Unicef disponibilizou dados aterradores sobre o efeito da pandemia na frequência escolar e na aprendizagem das crianças em alguns países, incluindo o Brasil.

Já sabíamos que, com o longo fechamento das escolas (maior que em boa parte dos países), a baixa conectividade e a falta de equipamentos ou livros para aprender, teríamos insuficiências, especialmente na alfabetização, e um abandono escolar relevante. Mas, ao destacar o caso brasileiro, Robert Jenkins, chefe global do Fundo das Nações Unidas para a Infância, destacou que, em vários estados brasileiros, três em cada quatro crianças do segundo ano do ensino fundamental estão com leitura bem abaixo do esperado e que um em cada dez alunos de 10 a 15 anos não pretende voltar às aulas quando as escolas reabrirem.

Alertou também para um desafio adicional que acometeu vários países: o agravamento da insegurança alimentar com a perda do que seria, para muitas crianças, a única fonte confiável de nutrição diária, a merenda. Fez menção também ao grave problema de saúde mental dos alunos, com um aumento de casos de ansiedade e depressão. Poderíamos reforçar o diagnóstico do Unicef com uma referência ao triste retrocesso ocorrido no combate ao trabalho infantil.

Nestas circunstâncias, seria urgente pensar numa operação forte para recuperar as aprendizagens perdidas, prolongar a jornada escolar (hoje reduzida no Brasil a inaceitáveis quatro horas, em média), contratar professores para o reforço e aperfeiçoar a infraestrutura das escolas. Deveríamos, além disso, avançar em direção a uma educação transformada e não apenas retomar a que tínhamos em 2019, com aprendizagem já insuficiente, desigualdades educacionais e uma baixa atratividade da carreira de professor.

O que estamos fazendo? Diferentemente de outros países que passaram a investir mais em educação para recuperar o que se perdeu, cortamos o orçamento de educação básica do MEC. Chegamos mesmo a pôr em risco o reajuste exigido por lei no piso salarial dos professores.

Há uma lenda de que o Brasil gasta muito em educação e que só faltaria gestão. Na realidade, investimos menos da metade por aluno, na educação básica, do que a média da OCDE. Pagamos também a nossos professores menos da metade do que eles. Faltam, assim, tanto recursos quanto gestão.

Precisamos, com urgência, sair do discurso fácil de que educação é prioridade e colocar o futuro das crianças, de verdade, no Orçamento.

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