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Escritora e roteirista, tem 11 livros publicados. Autora de "Macha".

Descrição de chapéu

Com autoestima do capeta, ministra promove um dia com a tia Damares

Se a ideia é aumentar a popularidade, iniciativa podia ser copiada por seus colegas

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Enquanto o número de contaminados e mortos sobe, o distanciamento social é flexibilizado para atender aos urros de figuras tão proeminantes quanto o velho da Havan.

Hoje em dia, quando se pensa no empresariado louco para abrir geral e espalhar o vírus como ofertas de saldão gritadas ao megafone, não há figura mais representativa que a do careca vestido de super-herói verde e amarelo. A que ponto chegamos.

Correr com os médicos do Ministério da Saúde, nomear militares para funções técnicas, cogitar terraplanistas e amigos dos filhotes para dirigir a pasta. A expressão “estar no mato sem cachorro” define o país. E assim, entre aglomerações e perdigotos ao vento, o brasileiro tenta ficar vivo.

Mas há que se fazer justiça. Existe, dentro do governo, quem batalhe pelo uso da máscara. Mais que isso, quem junte essa necessidade com a arte. Caso do ministério da Damares, que acaba de lançar um concurso –as quatro crianças que desenharem as máscaras mais bonitas passarão um dia inteiro com ela mesma, a tia Damares, em Brasília.

Em um vídeo que remete às antigas apresentadoras de programas infantis nos grafismos do fundo e na música, a ministra das crianças, como Damares se apresenta, lança a competição e chama adultos para inscreverem os pequenos artistas.

Perdão, mas Damares tem uma autoestima do capeta. Desenvolta, mostra as máscaras que usa e depois anuncia o prêmio do concurso. Além dela, a primeira-dama também vai acompanhar os vencedores. Um dia inteiro com Damares e Michelle. Em outros tempos, o nome disso seria penitência.

Ilustração para a coluna de Claudia Tajes de 25.mai.2020 - Cynthia Bonacossa

Se a ideia é aumentar a popularidade, a iniciativa podia ser copiada pelos seus impopulares colegas. As crianças que fizerem as redações com mais erros de português passam um dia inteiro com o ministro da Educação —que ainda desfia todo o seu repertório de piadas sem graça para elas.

As que acreditam em bicho-papão ganham um passeio ao lado do nosso trevoso chanceler. As que arrancam as plantinhas vão se aprimorar ao lado do ministro do Meio Ambiente. As que não querem tomar vacina e cospem o remédio vão conhecer o Ministério da Saúde.

Verdade que as coisas andam meio confusas por lá, mas nada como a pureza das crianças para elevar o moral da tropa.

Pensando bem, é melhor não elevar ainda mais do que já está. Deixa assim.

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