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Cristiane Gercina é mãe de Luiza e Laura. Apaixonada pelas filhas e por literatura, é jornalista de economia na Folha

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A solidão da adolescência e os crescentes crimes de ódio entre os jovens

Sociedade ainda não aprendeu a acolher crianças e a adolescentes, e toda carga recai sobre as mães e pais

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São Paulo

"Até quando?". Essa é a pergunta constante nos grupos de mães e pais após um adolescente de 16 anos entrar armado em uma escola da zona leste de São Paulo (SP) e atirar contra uma colega, matando-a aos 17 anos.

A dor da tragédia e o medo são grandes e atinge a todos. Vejo força e resiliência da juventude em se sair melhor do que os adultos de situações assim, mas não sem traumas.

A solidão e o desencaixe típicos da adolescência têm adoecido e levado jovens a travar uma guerra entre si.

Flores no enterro da adolescente Giovanna, morta aos 17 anos, por um colega de 16 na escola onde estudava - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Ser jovem nos dias atuais é mais difícil do que antes, o que reverbera não só na maternidade, mas em toda a sociedade. Com o advento das redes sociais, da sociedade da imagem e do crescimento de correntes políticas ligadas à intolerância, as tragédias se acumulam no Brasil e no mundo.

O adolescente é, por si só, um ser em mudança. De criança fofinha e engraçada, passa a usar aparelho nos dentes, ter espinhas, sentir dores, frustrações e inconformismo, já sabendo nomear esses e outros sentimentos. E sentindo-os com ainda mais intensidade.

Paralela a essa ebulição há uma cobrança pelo encaixe em grupos. O que sempre houve, é verdade, mas, desta vez, é preciso se encaixar no grupo, fazer o que todos fazem e ainda exibir essas posturas em redes sociais. Quem vai contra a maré acaba ainda mais isolado.

Ser negro, homossexual, transexual, pessoa com deficiência e ter qualquer outra condição que o diferencie da massa branca, feliz, rica e que caminha para a heteronormatividade da família tradicional brasileira ao menos em imagens nas redes sociais é estar muito fora de uma caixa no qual tentam encaixar seres humanos.

Fora dessa caixa, os jovens são empurrados para buracos profundos. Antes, eram apenas as drogas ilícitas (e até as lícitas) que faziam o estrago. Hoje, somam-se às drogas os vícios em redes sociais, jogos eletrônicos e games em geral.

Pais e mães gostam de ler textões sobre a solidão do quarto e o isolamento dos filhos, mas não sabem o que fazer. Também estão sozinhos nesta jornada, e, muitas vezes, imersos em seus celulares, completamente enfeitiçados pelas novas tecnologias.

WhatsApp e suas fake news, YouTube e suas teorias da conspiração, X, ex-Twitter, e seu ódio liberado e gratuito, aplicativos e canais de streaming que trazem a tão desejada alienação temporária para "descansar a cabeça" são irresistíveis aos adultos.

Somos uma sociedade que não lê notícias, não valoriza bons livros, não engrossa a bilheteria de bons filmes e que só se preocupa em ser milionária antes de qualquer idade X vendida por privilegiados que nunca colocaram o pé em uma escola pública nem em bairro de periferia.

Enquanto isso, os jovens seguem cada vez mais sozinhos, abandonados, vítimas de intolerância, bullying, arma de fogo e violência em geral.

A solidão da adolescência precisa ser encarada e direcionada. E precisamos descobrir como. É tarefa para toda uma sociedade, não só para mães e pais.

Até quando nossos filhos serão mortos? Até quando não sairmos de nós mesmos e nos envolvermos com a comunidade e a política como esfera necessária dos debates. Deixarão de ser mortos em escolas quando, de fato, valorizarmos a escola como espaço de todos, com os investimentos necessários.

O caminho atual, de destruição da educação, de reforço da solidão adolescente e de apoio ou silêncio dos adultos em relação a intolerância e intolerantes farão ainda mais vítimas.

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