Descrição de chapéu ataque a escola

Ataque em escola de Sapopemba, em SP, deixa aluna morta

Atirador tem 16 anos e é aluno da Escola Estadual Sapopemba; outras duas estudantes foram baleadas

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São Paulo

Um adolescente de 16 anos matou a tiros uma estudante e feriu outras duas na Escola Estadual Sapopemba, no Jardim Sapopemba (zona leste de São Paulo), na manhã desta segunda-feira (23).

O atirador, aluno do 1º ano do ensino médio do colégio, entrou na escola por volta das 7h30, efetuou diversos disparos e foi apreendido pela Polícia Militar após a ação.

Uma câmera de segurança registrou o momento em que o atirador entrou em uma sala de aula, cheia de alunos, e atirou. Houve correria, e alunos deixaram a sala em meio a um tumulto.

Policial em frente à Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, após ataque a tiros na manhã desta segunda (23) - Danilo Verpa/Folhapress

A aluna que morreu, Giovanna Bezerra, 17, levou um tiro na cabeça. As duas feridas foram socorridas e levadas para o pronto-socorro do Hospital Sapopemba –uma delas já recebeu alta. Um terceiro estudante, que se feriu ao fugir, também foi socorrido e foi liberado.

As motivações ainda são investigadas. Segundo o advogado Antonio Edio, que representa o atirador, o adolescente diz que tomou a atitude na tentativa de resolver o bullying e a homofobia que sofria.

"Ele me narrou que, já não aguentando mais essa situação de homofobia que ele sofria na escola, resolveu pegar uma arma de fogo que estava na casa do pai dele, arma que pegou escondido, sem a ciência do pai, e veio para a casa da mãe, sem que a mãe tivesse conhecimento", disse o advogado.

Segundo Edio, as agressões teriam aumentado a partir do momento em que o adolescente começou a usar roupas femininas. Em abril, diz, a mãe do atirador chegou a registrar um boletim de ocorrência a respeito de agressões sofridas em outra escola.

"A mãe registrou um boletim de ocorrência dessa homofobia que ele sofria. Levou ao conhecimento da escola, mas a única coisa que a escola fez foi dizer para a mãe trocar [o filho] de escola", disse o advogado.

Ainda segundo o advogado, o adolescente relatou que não tinha intenção de atirar na aluna que morreu, já que ela não participava das agressões contra ele. Porém, três estudantes contaram à Folha que, em maio, o atirador postou nas redes sociais uma montagem com ameaças à menina.

Na delegacia, o aluno autor do ataque afirmou que aprendeu a usar armas no YouTube, segundo vídeo ao qual a Folha teve acesso. A arma era registrada e estava regular, segundo a polícia. O pai está sendo procurado.

Além disso, a reportagem também teve acesso a uma conversa do estudante na plataforma do Discord, em que ele afirma que a motivação para cometer o crime era "se sentir poderoso".

Em uma troca de mensagens com um colega, ele contou que já sofreu bullying, mas que não se importava com vingança e não sofria tanto dentro da instituição de ensino.

Como a Folha mostrou, plataformas como o Discord se tornaram "terra sem lei", com registros de abusos sexuais e agressões envolvendo jovens. Por isso, a Polícia Civil trabalha com a hipótese de que mais pessoas tenham participado indiretamente do ataque. Em nota, a empresa diz que coopera com as investigações e que toma medidas quando tem conhecimento de "conteúdo ou comportamento potencialmente prejudiciais".

Um aluno do 2º ano disse à Folha que o atirador era conhecido por todos da escola e que era constantemente humilhado por ser gay e ter um estilo diferente.

Em entrevista coletiva, o secretário da Educação, Renato Feder, disse que o atirador não era identificado pela escola como um potencial agressor e não foi atendido por psicólogos.

Aluno efetuou disparos na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, na manhã desta segunda (23) - Reprodução/TV Globo

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que o governo falhou ao evitar um novo ataque no estado e que será necessário aumentar os meios de prevenção de ataques armados a escolas, apesar de já ter anunciado providências desde março, quando uma professora morreu com golpes de facada na escola estadual Thomazia Montoro, na zona oeste da cidade.

Nas redes sociais, o presidente Lula (PT) declarou que não se pode normalizar que jovens tenham acesso a armas. "Meus sentimentos aos familiares da jovem assassinada e dos estudantes feridos. Não podemos normalizar armas acessíveis para jovens na nossa sociedade e tragédias como essas", disse no X, antigo Twitter.

O corpo de Giovanna começou a ser velado na noite desta segunda. Emocionados e sem conseguir conter o choro, colegas vestiram roupa preta e levaram flores brancas. O enterro será nesta terça (24), às 13h30, no Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Santo André.

Mais cedo, a avó da jovem disse que a adolescente estava feliz porque havia começado um curso novo no período da tarde, remunerado. Segundo Luzia de Carvalho Silva, a comunidade já tinha ouvido a respeito de um possível ataque à escola.

"Nunca esperava, mas todo mundo já sabia que ia acontecer alguma coisa nessa escola, porque há muito tempo estão falando que tava tendo ameaça lá. Por que não fizeram as coisas antes?".

OUTROS CASOS

No último dia 10, um ataque à Escola Profissional Dom Bosco, em Poços de Caldas, no sul de Minas Gerais, deixou um estudante de 14 anos morto e outros três feridos. O ataque foi realizado por um ex-aluno do colégio, que usou uma faca na ação.

O crime aconteceu no horário de saída de alunos. Segundo policiais, o autor do ataque teria afirmado que aproveitou a movimentação de estudantes e pais no local e saiu "esfaqueando aleatoriamente".

Ele disse à Polícia Militar que buscava vingança por ter sofrido bullying enquanto estudava na instituição.

Em 19 de junho, um ataque a tiros no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé, no norte do Paraná, deixou dois alunos mortos —um casal de adolescentes.

O autor do ataque era um ex-aluno de 21 anos. Ele foi encontrado morto dias depois na prisão.

Na manhã de 5 de abril, um homem de 25 anos invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau (SC), e matou quatro crianças. As vítimas são três meninos e uma menina, com idade entre 5 e 7 anos. Uma machadinha e um canivete foram usados na ação, segundo o tenente Márcio Filippi, comandante do 10º BPM (Batalhão da Polícia Militar).

Conforme a apuração, o assassino chegou à escola em uma moto, pulou o muro e escolheu as vítimas aleatoriamente. Ao perceber que as professoras correram para proteger as demais crianças, ele tentou fugir pulando novamente o muro. Em seguida, se entregou.

Em 27 de março, a professora de ciências Elisabeth Tenreiro, 71, foi morta em um ataque na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Ela era descrita como apaixonada pelas filhas e pelos netos. Um aluno de 13 anos a atacou com uma faca pelas costas.

O agressor também feriu dois alunos e outras três professoras. O adolescente, que era aluno do 8º ano do ensino fundamental na escola, foi apreendido.

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