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Coluna é assinada pelo jornalista e tradutor Daniel de Mesquita Benevides.

Espirituosa como Mae West, Dirty Helen foi um furacão no mundo etílico

Era ótima em esconder seu uísque, mas péssima em administrar seu dinheiro

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Seu amigo Al Capone enviou um carpinteiro para construir um bar escondido atrás da parede. Nele cabiam 80 litros de uísque caseiro, então proibido pela Lei Seca. Os policiais nunca descobriram a fonte secreta da Sunflower Inn. A bebida, scotch e bourbon, era regularmente entregue de táxi. Atração principal, entrava pela porta dos fundos.

Situada em Milwaukee, no norte dos EUA, a taverna da lendária Dirty Helen recebia tanta gente que ela teve de tirar as mesas e cadeiras para acomodar todo mundo. Ninguém reclamou de ter de eventualmente sentar-se no chão. Aos mais animados, os quartos no andar de cima proporcionavam a diversão mais antiga do mundo.

O primeiro marido da então Helen Cromwell era gerente de vários saloons, o que foi uma universidade para a jovem de família rica, que nunca tinha vivido a balbúrdia de uma ambiente etílico. Até o dia em que, grávida, descobriu que ele tinha um caso com a mais conhecida "madam" da região.

Helen foi até lá e atacou ferozmente a cafetina, jogando-a de cabeça para baixo pela escadaria do bordel. O fuzuê deu início à lenda. Separada, ela mesma passou a trabalhar como profissional do sexo, chegando ao posto de sua antiga rival —abriu, com sucesso, mansões do prazer em Cincinnati, San Francisco e Chicago.

Dirty Helen - Reprodução

O apelido Dirty veio de ser desbocada e ferinamente engraçada, uma Mae West sem câmeras rodando. Seus insultos eram um espetáculo à parte. Era a forma de lidar com homens inconvenientes, que perdiam a pose após levar um cruzado verbal no queixo. As risadas impediam qualquer reação. Aqueles com alguma inteligência riam juntos e pagavam a próxima rodada.

Se ela era boa em esconder seu uísque e em lidar com a clientela selvagem, era péssima em administrar o dinheiro. Gastava tudo com festas, seis maridos inescrupulosos e uma fileira de namorados, a maioria deles gângsteres, ladrões de banco e contrabandistas de bebidas. Nada de almofadinhas sem graça, só a fina flor da vida loka.

Morreu em 1969, aos 83 anos, pobre e sozinha, não sem antes lançar a autobiografia, que virou best-seller. Ela também está no rótulo de uma marca de bourbon.

Rótulo do bourbon Dirty Helen - Reprodução

Dirty Helen é uma das 75 mulheres maravilhosas que fazem parte do livro "Drinking like ladies", da dupla de mixólogas Kirsten Amann e Misty Kalkofen. São ativistas, cientistas, atletas, aventureiras, escritoras, cantoras, filósofas, cada qual homenageada com uma receita de drinque criada especialmente por uma bartender.

O lema, estampado na capa, é "derrube o patriarcado com um coquetel por vez". Tudo a ver com o grupo fundado pelas autoras, o Toast Club, por sua vez inspirado numa organização protofeminista de 1895, que se reunia para beber, fumar cachimbos e debater questões da mulher. O Toast Club promove festas para arrecadar dinheiro para causas como o combate à violência doméstica.

O coquetel feito para Dirty Helen é de LeNell Camacho Santa Ana, de Birmingham. O nome se explica: na longínqua noite em que saiu enfurecida do prostíbulo, Helen parou num saloon e bateu a mão no balcão para pedir um sazerac. A mão brilhou, num raio. Ela levava no dedo o anel de diamante que o marido havia dado à amante.


DIRTY DIAMOND

30 ml de uísque rye

30 ml de conhaque

7,5 ml de absinto

um cubo de açúcar

4 lances de Angostura

Champanhe

Numa taça flute ou coupe, molhe o açúcar com Angostura. Mexa os três primeiros ingredientes com gelo e coe para a taça. Complete com champanhe e finalize com um twist de limão siciliano.

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