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É atriz e autora de "Travessuras de Mãe" (ed. Globo) e "Retrato Falado" (ed. Globo).

Que assim seja

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Costumo rezar. Fui criada em uma família católica, ia à missa todo domingo e até fiz parte do grupo jovem da paróquia. Não vou mais à missa, já esqueci o salve-rainha e o pouco de violão que aprendi para tocar as canções de louvor, mas ainda faço minhas orações com regularidade.

O tempo personalizou minha forma de falar com Deus, mas sempre termino a conversa com um pai-nosso e uma ave-maria.

Repito-os com esforço de concentração, tentando domar minha atenção que já vaga para os afazeres do dia. É mesmo difícil repetir "o Senhor esteja convosco" com e-mails pra passar e filhos para buscar na escola.

Invariavelmente, chego ao "rogai por nós" já pensando no texto que tenho pra estudar ou em contas pra pagar e volto ao início da oração tentando pensar no que estou dizendo.

Que Deus me perdoe, mas poderiam ter feito adaptações melhores do pai-nosso e da ave-maria através dos tempos. Repito-os por acreditar na força dessas palavras, como um mantra universal, mas a redação dessas linhas sempre me deixou a desejar. Quem será o verdadeiro autor dessas orações?

Crédito: Ilustração Zé Vicente

Desde a minha primeira comunhão, com a hóstia grudada no céu da boca, me esforço para percorrer as sagradas palavras pensando no seu significado, como nos orientou a professora do catecismo. Mas confesso que, quando o faço, nunca deixo de pensar em Nossa Senhora, apressada, dizendo: "Fala logo, filha, o que você quer comigo! Deixe de rodeios!".

Metade da ave-maria é uma saudação cheia de firulas para, só no final, pedir que ela rogue por nós. No pai-nosso, sempre será um mistério para mim o "mas" do "não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal". Me parece que, a princípio, se o Pai não nos deixa cair em tentação, já estará nos livrando do mal. Que "mas" é esse? Tenho a impressão que esqueceram de colocar um "se cairmos" no final, para que ele não nos deixe cair em tentação, mas que nos livre do mal, se cairmos.

Ensinei aos meu filhos as duas orações. Há que saber. Em seus egos infantis, sempre falavam "seja feita a nossa vontade". Eu ria, corrigia, mas nunca consegui fazê-los entender qual era o tal do vosso reino e que ofensas tinham cometido.

Ainda assim, folgo em saber que sabem de cor as palavras mágicas que minha avó me ensinou e que, na hora do aperto, percorro cheia de fé e sem questionar uma vírgula.

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