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Atriz e roteirista, autora de “Fim” e “A Glória e Seu Cortejo de Horrores”.

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Documentário Active Measures mostra como Trump foi da quase ruína a presidente

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Não sou dada a teorias conspiratórias, mas "Active Measures", de Jack Bryan, disponível na Apple TV, me deixou de cabelo em pé.

Com depoimentos de Hillary Clinton e John McCain, além de embaixadores e estrategistas de campanha, o documentário retrocede até a falência de Trump, nos anos 1990, época em que o New York Times publicou parte de sua declaração de imposto de renda, mostrando um rombo de US$ 916 milhões nas finanças.

Desde então, Trump não só se reergueu como foi eleito presidente. "Active Measures" segue o caminho do dinheiro para entender como e por que isso aconteceu.

A perestroika, tão comemorada pelas bandas de cá, representou um duro golpe na autoestima dos russos e fez a máfia local chegar ao centro do poder, criando uma casta de novos biliardários.

Para quem não leu "Limonov" (Companhia das Letras), de Emmanuel Carrère, vale a dica. A biografia do poeta que emigrou de Moscou para a cena punk americana, virou escritor cult em Paris, lutou junto aos sérvios na Guerra dos Bálcãs e, de volta à pátria, fundou o partido nacionalista bolchevique, explica bem a derrocada soviética no período pós-Gorbatchov e a as razões da idolatria a Putin.

O "Make America Great Again", de Trump, teria nascido com o "Make Russia Great Again", de Putin.

Ciente da inferioridade bélica da União Soviética perante os Estados Unidos, o ex-agente da KGB, catapultado ao poder em 2000, decidiu destruir a democracia ocidental. Ele se valeu da liberdade de expressão e do pleito, incitando grupos extremistas e apoiando líderes extremados.

No fim dos anos 1990, o fracasso do Trump Shuttle e do Trump's Atlantic City Casinos quase leva Trump à ruína. Na lista negra de Wall Street e sem crédito para sair da bancarrota, o milionário foi salvo pelo recém-aberto setor de investimento imobiliário do Deutsche Bank, da Alemanha.

O mesmo Deutsche que, entre 2015 e 2017, perdeu uma ação de mais de US$ 630 milhões por ter permitido a lavagem de US$ 10 bilhões sujos dos russos.

O acordo com o Deutsche Bank marca o início da amizade de Trump com os soviéticos, que persistiu até, e para além, das eleições de 2016.

A Tower nova-iorquina foi ocupada por sócios vermelhos e o império do homem que, hoje, está sentado na sala oval reemergiu graças ao dinheiro russo esquentado no "real state" americano.

Em paralelo ao dinheiro, "Active Measures" se debruça no poder de cizânia das redes sociais, cujo potencial explosivo Putin percebeu muito antes de qualquer líder democrata ou republicano.

Por meio das fake news e de big data, da Cambridge Analytica e do Wikileaks, Putin teria instigado grupos extremistas de direita e de esquerda, estimulando o ódio e a falta de diálogo na população, acuando a voz dos moderados, enquanto envenenava um ou outro oponente.

Dois dias depois de eu assistir a "Active Measures", o New York Times publicou a carta anônima de um alto funcionário da Casa Branca jurando que age na surdina para impedir que as ordens do louco laranja sejam levadas a cabo. Tremi.

Trump e "brexit"; Bolsonaro e Cabo Daciolo; Le Pen e o partido ultradireitista sueco —seria tudo consequência dos planos de dominação do Big Brother da KGB?

E o que dizer do incêndio do Museu Nacional?! Bom, esse é culpa dos 200 anos de descaso pátrio. Foi made in Brazil.

Melhor se agarrar ao iluminista Steven Pinker e acreditar que nunca estivemos tão bem.

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