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Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Banho kafkiano

Era a Gracyanne Barbosa das baratas

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Já faz tempo que não vivemos a ameaça de sermos atacados por um animal selvagem. 

Tirando algumas pessoas que vivem em lugares exóticos, são baixas as chances de enfrentarmos, corpo a corpo, uma onça ou um urso pardo.

Há dez anos, passei uma temporada em um parque nacional nos Estados Unidos. Lá, os guardas davam instruções de como agir na presença de animais selvagens. Passo um: fique parado e jamais fuja. Passo dois: se o animal se aproximar, mova os braços para cima e para baixo. Passo três: em caso de ataque, 
“lute por sua vida”.

Desde então, o assunto “homem versus animal” me intrigou. O que eu faria diante de um ataque de um animal selvagem? Conseguiria lutar com uma onça? E um jacaré? E se me deparasse com um tubarão?

Teria a frieza de dar um soco no focinho dele? Tubarões têm focinho? Nunca imaginaria que meu maior duelo com um animal seria em São Paulo, dentro de casa, durante o banho.

Era uma noite de segunda-feira. Estava naquele momento meditativo, quando pensamos apenas na água escorrendo no pescoço. Até que meu nirvana do xampu foi interrompido por algo caminhando pela minha perna.

Talvez, antes de invadir meu banho, a barata tenha passado por uma loja de suplementos alimentares, porque tinha uns dez centímetros e coxas fortes. Era a Gracyanne Barbosa das baratas.

Tentei tirá-la com as mãos, mas, além das supercoxas, Gracy tinha mais um superpoder. Ela voava. 

Segui as instruções dos parques nacionais. Fiquei parada, mas ela era abusada e voava ao meu redor.

Passei para o passo dois. Sacudi os braços, tentei espantá-la para a janela. Desviei dela e quase escorreguei, porque o ataque da barata de coxas grossas me impediu de tirar o xampu. Era hora de partir para o último passo.

Tentei acertá-la com o sabonete, mas Gracy, mesmo com todos os músculos, era ágil. Joguei xampu, condicionador, creme de pentear, todos os produtos do box de uma mulher, e eles são muitos.

Lá estava eu, humilhada e encharcada, porque a toalha foi a arma final do duelo de Davi e Golias —sim a barata era o gigante Golias.

Esqueçam todos os animais selvagens. O animal mais perigoso do mundo é uma barata voadora, que pega você no banho, desprevenido e nu.

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