Siga a folha

Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Descrição de chapéu

Comentários em portais de notícias são como um acidente na estrada

Você sabe que vai fazer mal, mesmo assim, não consegue não olhar

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

“A dondoca aproveitou bem quando ele era vivo, né?”, comenta um leitor sobre a notícia de que a viúva do Gugu estaria brigando pela herança.

“Esse aí não trabalha não?”, escreve uma seguidora sobre a foto de um ator que faz ioga com a filha recém-nascida.

“Isso é falta de surra de pai”, pragueja um rapaz sobre Greta Thunberg cabular aulas pelo meio ambiente.

Comentários em portais de notícias e nas rede sociais são como um acidente na estrada ou um post da Luisa Mell no Instagram. Você sabe que vai fazer mal, mesmo assim, não consegue não olhar.

Antes das redes sociais, quando nossa realidade se limitava a um raio de mil metros, existia um indivíduo comum em toda a vizinhança. Tratava-se de um idoso, normalmente abandonado pela família, que passava o dia na porta de casa julgando todos e gritando: “Saiam do meu canteiro!”. Essa pessoa era conhecida, pejorativamente, como o velho do portão.

Mas a maioria dos comentários na internet não vem de idosos abandonados e cansados da vida. São feitos por jovens de 20 a 30 anos que usam as redes sociais para despejar azedume e frustrações. Se antes tínhamos o velho do portão, hoje temos o jovem do portal.

Assim como o velho do portão praguejava sobre as jovens com roupas curtas, o “jovem do portal” aproveita caixa de comentários para reprovar mulheres que “não se dão mais ao respeito no Carnaval”.

Além de reclamar da vida alheia, o jovem do portal é especialista em qualquer assunto. “Vão espalhar coronavírus pelo Brasil e quem vai pagar somos nós”, postou sobre os brasileiros resgatados na China um jovem do portal que, mesmo trabalhando em um cartório, também é epidemiologista nas horas vagas.

“Os Estados Unidos têm que acabar com o islamismo. Só assim teremos paz.” Diz a jovem do portal que, além de vendedora de maquiagem e racista, é, secretamente, especialista em geopolítica.

O velhos de portão são pessoas que, na maioria das vezes, tiveram uma vida divertida. Mas o tempo trouxe frustrações e perdas que os deixaram ranhetas. Já o jovem do portal se tornou rabugento precocemente.

A dúvida que fica é: o que vai acontecer com o jovem do portal após décadas de sofrimento e decepções? Estaremos preparados para um velho do portal?

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas