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Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.

Vale a pena ter princesas diversas e sereias que nadam contra a maré

Quem quiser ver ruivas, que veja As Brumas de Avalon ou um clipe da Enya

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Recentemente, a Disney lançou o trailer da versão live-action de "A Pequena Sereia", que terá a atriz Halle Bailey como a princesa Ariel. Em pouco tempo, o vídeo divulgado no YouTube foi tomado por uma avalanche de avaliações negativas, e a plataforma teve que desabilitar os comentários. A maior parte das críticas se devia ao fato de a protagonista ser negra, não branca de olhos claros, como a do desenho original.

Ilustração publicada em 22 de setembro de 2022 - Galvão Bertazzi

A reação é mais uma prova de que o meteoro que caiu no Golfo do México veio 70 milhões de anos antes do que deveria. Mais adiantado só estava o cometa, porque o fato de que o óbvio ainda precise ser explicado mostra que, a cada ano, andamos milhões de casas para trás.

Quem dedica seu tempo a criticar um filme da Disney não consegue nem perceber o tamanho da burrice de seus comentários. Ao esbravejar que a Disney tem que se manter fiel ao desenho original, não entendem que quem criou o desenho original foi a própria Disney —portanto, se ela fez uma sereia ruiva, pode fazer outra sereia como bem entender.

Muitos escreveram: "Não sou racista, é que não tem nada a ver com o desenho original". Minha flor, se você quer algo igual ao desenho original, veja só, você pode assistir ao desenho original. E sim, você é racista.

Outros disseram que a história foi criada por um escritor dinamarquês, o que justificaria Ariel ser branca. No livro original, a sereia sangra pelos pés e sente dores como se facas estivessem perfurando as pernas. Mas não vimos nenhum crítico reclamando que nada disso é contado. Ou que a animação tenha um caranguejo caribenho.

Se querem fidelidade, os críticos deveriam ir às igrejas protestar por Jesus Cristo ser retratado como um nórdico, sendo que ele nasceu no Oriente Médio.

As sereias foram criadas pelos gregos antigos. Se eles viram algo parecido com uma, seria navegando pelos confins do Mediterrâneo, ou seja, pela costa africana. Quem quiser ver ruivas, que veja "As Brumas de Avalon" ou um clipe da Enya.

A prova de que nem tudo está perdido é o vídeo postado nesta semana com meninas negras assistindo ao trailer do filme. A reação delas ao se verem representadas como a sereia que sempre amaram mostra como vale a pena ter princesas diversas e sereias que nadam contra a maré.

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