Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Manuela Cantuária

Ariel, de 'A Pequena Sereia', é a princesa mais transgressora de todas

Que sua rebeldia possa inspirar outras meninas que se sentem como um peixe fora d'água

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sou uma criança dos anos 1990 e minha princesa da Disney preferida sempre foi a de "A Pequena Sereia". Sou uma adolescente dos anos 2000 e aderi ao feminismo que condenou Ariel à pena máxima de ser submissa e "machocentrada". Sou uma adulta que chorou feito um bebê na semana passada, no auge da polêmica da pequena sereia negra.

A polêmica se deu em torno da reação racista do público à escolha da Halle Bailey para o papel principal. Mas os cães ladram, e a caravana passa. Um vídeo que viralizou na sequência, um compilado de meninas negras reagindo ao trailer, me comoveu profundamente.

Desenho da sereia negra Ariel da Disney
Ilustração publicada em 20 de setembro de 2022 - Silvis

Foi quando consegui olhar para "A Pequena Sereia" sem o véu de um pseudofeminismo que acabou por silenciar a princesa mais transgressora de todos os tempos.

Ariel é, por essência, insubmissa. Em sua cena de apresentação, ela não comparece a seu concerto de estreia como cantora. Ela não quer ser vista, ela quer ver. Ela prefere fazer uma expedição a um navio naufragado e coletar objetos para entender a cultura humana.

O fascínio de Ariel pelos humanos é um tabu na sociedade em que vive, algo que seu pai, a personificação do patriarcado, reprime.

"A Pequena Sereia" é uma arqueóloga que arrisca a própria vida em busca de respostas. A arqueologia é o campo da ciência em que a relação sujeito-objeto se dá de forma mais literal, porque o que essa personagem quer é ser sujeito, não objeto.

Em sua música-tema "Parte do seu Mundo", Ariel exprime seu maior desejo, pertencer. Se ela quer tanto ser humana, é porque sofre por ser desumanizada. Em nenhum momento Ariel diz que quer um marido. A única coisa que ela tem a dizer sobre o príncipe é que ele é bonito. Ariel objetifica esse homem da mesma maneira que os homens objetificam as mulheres.

E quando o navio de Eric afunda e Ariel salva a vida dele, ela vira o jogo mais uma vez. Quem é a donzela em perigo aqui? Ela subverte sua condição de criatura mitológica e prova o quanto é humana. Ariel paga o preço por se transformar em uma mulher de verdade. Quando ela idealiza o mundo dos homens, ela precisa entender que, nesse mundo, ela não terá voz. É esse mundo que precisa ser transformado.

É um respiro ver minha princesa favorita voltar à superfície. Que a rebeldia da pequena sereia possa inspirar outras meninas que se sentem como um peixe fora d’água.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.