Roteirista. Escreve para programas e séries da Rede Globo.
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Em entrevista para a Folha, Fabricio Bloisi, fundador do aplicativo de entregas iFood, afirmou que, em dez anos, as taxas de entrega ficarão tão baratas que ninguém mais precisará cozinhar.
A declaração embrulhou o estômago de muitas pessoas na internet e recebeu protestos de cozinheiros e nutricionistas.
Mas o presidente do iFood tem um ponto. Ninguém mais precisa ou quer cozinhar.
Para que lavar verduras e preparar legumes se dá para receber, em um clique, um hambúrguer, um quibe ou yakisoba?
Para que preparar um sanduíche se podemos pagar para alguém montar e outra pessoa transportar e aguardar no local por um salário menor do que o preço do sanduíche?
Sabemos que o ato de cozinhar existe desde o Paleolítico, há quase 2 milhões de anos. Quando o homem descobriu que a carne, assada no fogo, ficava muito mais suculenta e fácil de comer, foi uma revolução para a nossa espécie.
Mas quem vive no Paleolítico ainda? Muito melhor hoje, quando vivemos confortavelmente em apartamentos de 40 metros quadrados e passamos a maior parte do tempo presos no trabalho e no trânsito.
A nova revolução será desligar o fogo e dizer: "Vamos pedir pelo aplicativo?". Teremos mais tempo para trabalhar e ficar presos no trânsito.
Alguns dizem que cozinhar e decidir os ingredientes da sua comida, sem depender de outras pessoas, é um grito de independência. Mas quem quer independência?
Ninguém mais quer sentir o aroma de ervas frescas sendo picadas. Ou ouvir o som da manteiga derretendo na frigideira. Experimentar os ingredientes e explorar o paladar a cada passo da receita. Comer um arroz recém-saído da panela, com o fundo levemente queimado. Deus me livre.
Pior ainda é cozinhar para os outros. Imagina só agradar a alguém que você ama com comida, um dos maiores prazeres da vida. Reunir os amigos em volta de uma churrasqueira. Assar um belo corte de carne, com linguicinha e pão de alho. Preparar brócolis e palmito que, com a reação de Maillard, ficam mais gostosos do que carne. Credo.
Quem quer quebrar um ovo na frigideira, ouvir o som da clara estourando? Colocar por cima do arroz com feijão?
Estourar a gema mole e ver ela escorrendo pela comida, como lava de um vulcão, com explosões de sabores? Credo. Deus me livre.
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