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Natal

É preciso cancelar o Natal deste ano: o sol ainda não está pronto pra nascer

Quem sabe o mundo terá que se render ao sol do hemisfério sul, que se renova em junho, na festa de São João?

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Na nossa família, o Natal era um festão. Somos quatro irmãos, filhos de uma mãe com três irmãs, netos de avós que se casaram quatro ou cinco vezes. Junte uma horda de amigos judeus, primos agregados, ex-maridos órfãos e toda uma multidão pra quem o Natal tinha perdido sua razão de ser.

Lá em casa, os desgarrados encontraram um sentido novo pra data, que é também o seu sentido mais antigo: uma festa de aniversário.

Minha mãe nasceu no dia 24, e não foram raras as vezes em que o Natal terminou na pista de dança, vendo o sol nascer.

Como em toda festa boa, era comum cruzar com gente que ninguém sabia de onde vinha: “Nosso Natal tem penetras!”, me orgulhava. O de Jesus também: não há registro de convite aos reis magos.

Os antigos também viam o sol nascer. Nessa mesma data, comemoravam a morte do sol velho e o nascimento do sol novo. Os gregos celebravam Dionísio e, os persas, o aniversário de Mitra, o deus do Sol, que também tinha nascido de uma mãe virgem. Nessa mesma semana, os romanos comemoravam a Saturnália, quando trocavam presentes e comiam até não poder mais.

Ou seja: Jesus já sofria do mal de quem nasceu no Natal e ganha um presente só. Ou nem isso. Naquela época, ninguém sabia em que dia ele tinha nascido. Certamente não foi no inverno, garantem historiadores, mas entre março e novembro, quando é mais provável que um bebê sobreviva num estábulo na Galileia.

Astrólogos garantem que ele é pisciano (“Deus, por que me abandonaste?”), outros apostam que é leonino (“Eu sou o caminho, a verdade, a vida”).

Só inventaram que Jesus nasceu no dia 25 de dezembro alguns séculos depois, e por puro oportunismo, igual o Doria marcou a vacina pro dia 25 de janeiro: pra se apropriar de uma festa que já existia antes. O rebranding deu certo, e já ninguém se lembra de Mitra.

Neste ano, nossa família não vai fazer festa. Não vamos nem nos encontrar. Não vai ser fácil. Gostava de pensar que começava ali um longo ciclo de aglomerações: Réveillon, pré-Carnaval, praia, Carnaval.

Acontece que o sol ainda não está pronto pra nascer: precisa de muitos meses. Quem sabe o mundo terá que se render ao sol do hemisfério sul, que se renova em junho, na festa de São João? Quem sabe aí não
estejamos, juntos, um novo Natal? Junino, festivo, carnavalesco e solar. Como tem que ser.​

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