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Descrição de chapéu

A segunda dose da vacinação juntou a 'fomo' com a vontade de se comer

A angústia da escolha tem séculos de idade, mas o Instagram terminou de estragar tudo

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Há quem diga que o alemão tem palavra pra tudo, mas a infinidade vocabular alemã não passa de um golpe de marketing. Os alemães inventam vocábulos aglomerando palavras, uma em cima da outra. Fazem palavras como fazem salsicha. "Intolerância alimentar", por exemplo, vira uma palavra só: "nahrungsmittelunverträglichkeit", ou melhor, "intolerância relacionada à comida", só que tudo junto.

Os alemães não têm mais palavras que a gente, eles apenas evitam usar a tecla do espaço. Existem palavras como "grundstücksverkehrsgenehmigungszuständigkeitsübertragungsverordnung", que no Brasil significa apenas que o gato dormiu no teclado.

Por isso não acredite quando um alemão disser: "Temos palavra pra tudo, até pra descrever a saudade que sentimos da casa da nossa falecida avó". Qual? "Saudadequesentimosdacasadanossafalecidavó."

Os anglo-saxões, ainda mais práticos, ou preguiçosos, costumam abolir não apenas a tecla do espaço mas também diversas sílabas. Chamam de "portmanteau" o casamento de duas palavras em que uma devora parte da outra: brunch, brexit, bromance.

O Brasil também tenta criar palavras assim. Mas não dá certo. São as palavras mais irritantes da língua portuguesa, como "almojanta", "namorido" ou, a pior, "bebemorar".

Gosto de uma palavra deles que não temos. É a "fomo", acrônimo pra "fear of missing out" —a angústia por não conseguir estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Aquilo que os alemães devem chamar de "angústiapornãoconseguirestaremtodososlugaresaomesmotempo" e os brasileiros chamam de "fogo no rabo".

A angústia da escolha tem séculos de idade, mas o Instagram terminou de estragar tudo. Nos stories todo o mundo está se divertindo mais que você. A segunda dose da vacina juntou a "fomo" à vontade de comer. A pandemia deu lugar à euforia. O resultado é que o Brasil voltou ao mapa da "fomo".

Com uma filha pequena que acorda às seis da manhã, tenho sentido uma enorme alegria de não estar onde não consigo estar. Não sobreviveria a uma retomada dessas. Se eu tivesse 20 e poucos anos já teria morrido de "fomo".

Resta-me aconselhar os jovens a fazerem aquilo que eu não consegui. Bebam muita água. Não misturem bebida. Não comam maconha. Não aceitem drogas de desconhecidos. Recolham-se pra casa antes do amanhecer. Nada de bom acontece depois das quatro da manhã. E por favor nunca, mas nunca, usem o termo "bebemorar".

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