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O penetra é, antes de tudo, um forte

Ele tem o dom da novidade: faz da reuniãozinha uma festa de fato

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Estava com saudades dele. A pandemia fez com que me esquecesse do carinho gigante que nutro por sua figura. Não há personagem mais carismático que o penetra.

Fazia dois anos que não topava com esse personagem tão querido por essas bandas. Noutras culturas, talvez não seja tão bem-vindo. Por aqui, não se nega uma festa a ninguém. Não somente por altruísmo mas porque sabe-se que dele depende o sucesso do evento.

Uma festa em que todos se conhecem não passa de uma confraternização. O penetra tem o dom da novidade: faz da reuniãozinha uma festa de fato.

Ilustração publicada em 5 de abril - Catarina Bessell

A aparição do penetra dá um sentido à aglomeração. Ninguém quer se arrumar pra ver as mesmas pessoas de sempre, só que bêbadas. O penetra gera assunto. Desperta perguntas. "Quem é? Quem trouxe? Com quem vai embora?"

Como o personagem de Peter Sellers em "Um Convidado Bem Trapalhão", o penetra entrega entretenimento. Desconhecido, não tem nada a perder. Inaugura a pista de dança. Se dançar bem, ótimo. Se não souber dançar, melhor ainda. "Rapaz, olha a dança do penetra."

Geralmente —quase sempre— está solteiro. Por isso penetrou. Está em temporada de caça. Enquanto os convidados estão lá muitas vezes por obrigação, o penetra está ali porque quis. E quis muito. Precisou driblar um porteiro, quiçá um segurança. Não faz corpo mole. Não julga ninguém. Bebe mais do que devia. Carrega, sozinho, a festa nas costas.

Todo penetra tem uma história pra contar. Sua presença já denota que possui a característica definitiva dos heróis: coragem. Mais que coragem: audácia. O penetra não teme o desconhecido. O sujeito olhou pro mar revolto de completos desconhecidos e içou velas. Encarou o medo de ser expulso, venceu o medo de ser julgado, derrotou as vozes interiores do bom senso. O penetra é, antes de tudo, um forte.

Nunca me esqueço de um rapaz que chegou sozinho à minha festa de aniversário — sem conhecer ninguém. Nem eu. Passou pela porta, viu uma festa e entrou. Foi amor à primeira vista. Dançou a noite toda, beijou homens e mulheres, adormeceu no sofá. Viramos amigos e, no ano seguinte, voltou —dessa vez convidado. Burrice a minha.

Tendo sido apresentado a todos, já não tinha mais aquele brilho no olhar. Perdeu o destemor. Munido de um convite, tornara-se um pálido conviva, pobre animal em cativeiro. Foi embora, e nunca mais voltou.

Torço pra que me esqueça do seu rosto, e ele se esqueça do meu, e possamos voltar a desfrutar do prazer desse encontro inusitado, como se fosse a primeira vez.

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