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Diretor-presidente do Instituto Akatu, foi secretário de Desenvolvimento da Produção do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (1999-2000).

Um exercício de pensar o modo de vida do 'novo normal'

Conheça cinco fatores que ajudam a avaliar se as mudanças de comportamento devem ou não permanecer no pós-pandemia

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Uma possível segunda onda da pandemia no Brasil está provocando um aprofundamento das práticas de um novo viver em boa parte da população, adicionando ao isolamento social e à duração da pandemia, dois dos cinco fatores indutores e viabilizadores de mudanças de comportamento expostos em minha coluna anterior e que aumentam a probabilidade das mudanças permanecerem ao fim da pandemia.

Como prometido naquele texto, apresento agora outros cinco fatores de mudanças que contribuem no exercício de definição do tão falado “novo normal”.

O primeiro fator é a percepção de interdependência trazida à consciência pela pandemia. O vírus fortemente transmissível alertou a todos o quanto os atos de um indivíduo geram impactos (negativos ou positivos) em toda a sociedade. A pandemia nos lembra todo o tempo que o cuidado de uma pessoa está ligado ao cuidado do outro, ressaltando o sentido do “nós” e não apenas do “eu” e uma consciência de um coletivo interdependente, em que todos e tudo podem afetar a todos e tudo.

O que decorre desta percepção? Vale analisá-la em conjunto com um segundo fator, o da clara percepção das desigualdades sociais que a pandemia escancarou, sobretudo àqueles cuja bolha se mantinha impermeável à realidade de que para muitos não são dadas as condições sanitárias, de saúde, de educação, de natureza do trabalho, entre outras, imprescindíveis para que cuidem de si — o que dirá cuidar dos outros.

Na recém divulgada Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2020, realizada pelo Akatu em parceria com a GlobeScan, com entrevistas online feitas em junho deste ano, no pico dos casos de pandemia, 66% dos consumidores brasileiros afirmaram terem sido pessoalmente afetados pela doença. E, quanto às mudanças na vida no último ano, 30% disseram ter doado dinheiro ou atuado como voluntários, um gesto de solidariedade aos mais vulneráveis, demonstrando a percepção de interdependência do indivíduo na promoção de um bem-estar maior.

O terceiro fator aprofunda as conclusões acima: o vírus mostrou a gravidade do que acontece quando se passa dos limites de regeneração dos ecossistemas, causando a destruição de habitats de muitas espécies e colocando a própria espécie humana em risco. Microrganismos presentes em animais silvestres e na natureza, ao verem destruídos seus habitats, entram em contato com os humanos, se incorporam na sua cadeia alimentar ou mesmo no ar que respiram, mudando a pergunta sobre a possibilidade de outra pandemia para quando ela acontecerá.

A relação entre impactos no meio ambiente e impactos na vida humana já era percebida e tem sido potencializada na pandemia, como indica a mesma pesquisa: aumentou de 70% (2019) para 80% (2020) o percentual de pessoas afirmando que o que é bom para mim, nem sempre é para o meio ambiente.

O quarto fator é a percepção de necessidade de repriorização dos aspectos de saúde e de cuidado com o meio ambiente na vida cotidiana. A mesma pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2020 mostrou que 68% dos consumidores pesquisaram frequentemente sobre vida saudável e 59% sobre vida ecológica, enquanto 54% foram encorajados, por familiares ou amigos, a uma vida saudável e 45% a uma vida ecológica, revelando um significativo interesse pessoal e uma pressão por meio de novas normas sociais, contribuindo à permanência dessa tendência.

O quinto e último fator é o da observação, no cotidiano, dos impactos do próprio consumo. O isolamento leva a conviver, por exemplo, com a quantidade de alimento desperdiçada e a mesma pesquisa mostra que 91% dos consumidores brasileiros têm interesse em diminuir tal desperdício e 81% em reciclar itens recicláveis, interesses que já existiam e foram acelerados pela pandemia.

Da mesma forma, a convivência com um excesso de bens materiais, contraposto à falta do afeto e das trocas presenciais com amigos e familiares, revelam com força o que realmente importa para o bem-estar, reavaliando, com sentimento e emoção, o que é supérfluo e o que é essencial e, por ocorrer em um contexto de forte fragilidade emocional, dificilmente será deixado de lado após a pandemia.

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