Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Não mudar para mudar
Apesar de os recentes governos terem sido bem avaliados, uruguaios decidiram que é hora de mudar
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Num momento em que países latino-americanos passam por turbulências relacionadas à polarização política, chama a atenção a tranquilidade com que o Uruguai enfrentou um pleito disputadíssimo.
O candidato conservador Luis Lacalle Pou derrotou no segundo turno, por margem estreitíssima, Daniel Martínez, da Frente Ampla, uma coalizão de partidos de centro-esquerda. Mesmo assim, a campanha transcorreu sem radicalização. Os postulantes até discutiram seriamente questões importantes, como o aumento da violência. Qual é o segredo do Uruguai?
Peço aqui licença para voltar a citar o livro “Why Bother with Elections?”, do cientista político Adam Przeworski, de que falei há pouco. Przeworski é um minimalista. Define a democracia como a possibilidade de o eleitorado remover pacificamente um governante. Foi isso que os uruguaios fizeram ao pôr fim a 15 anos de governos da Frente Ampla.
Apesar de as três administrações da coalizão terem sido bem avaliadas, os uruguaios decidiram que é hora de mudar. A própria Frente Ampla, a julgar pelas reações de seus líderes, não pareceu muito incomodada em deixar o poder. Por quê?
Przeworski afirma que uma das condições para a democracia funcionar bem é que o resultado de eleições não faça muita diferença. É por saber que não têm muito a perder que os derrotados se conformam em ir para a oposição, cientes de que a outra parte fará o mesmo quando chegar a sua vez.
O Uruguai estabeleceu consensos básicos que facilitam esse processo. Ninguém propõe grandes mudanças na economia e mesmo a pauta de costumes não deve sofrer guinadas. O conservador Lacalle diz que vai mexer em pontos da legalização da maconha, mas mantendo a possibilidade de os usuários plantarem sua própria erva.
Não que revoluções pelo voto sejam impossíveis, mas a democracia combina mais com o incrementalismo.
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