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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

De Posto Ipiranga a Manjubinha

Economistas nem sempre estudam filosofia como deveriam

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Paulo Guedes passou da condição de ministro que resolveria tudo na economia para a de petisco frito por imersão ("deep fried"). Até aí, não é tão surpreendente. Esse é um destino relativamente comum para ministros, sob governos de todas as ideologias.

Mais difícil de entender é como alguém que se proclama liberal tenha se envolvido com um dirigente autoritário como Jair Bolsonaro. Guedes se gaba de ter lido Keynes "três vezes e no original", mas me pergunto se leu Hayek, autor que, para ele, na condição de egresso da Escola de Chicago, deveria ter maior precedência.

E Hayek, melhor do que qualquer outro liberal moderno, compreendeu que não é possível desmembrar a economia das outras dimensões da vida. "Fins puramente econômicos não podem ser separados dos outros fins da vida", escreveu em "O Caminho da Servidão". Isso ocorre porque a economia é, no fundo, uma forma de ordenar nossas prioridades, algo que depende do valor que atribuímos individual e coletivamente às diferentes atividades e às coisas.

A crítica de Hayek ao socialismo é que este, ao contrário do livre mercado, exige a instalação de um planejador central para a economia, o que necessariamente diminui nossa liberdade existencial. E ampliar a liberdade existencial é, não só para Hayek como para Marx (não confundam o autor com o que fizeram em seu nome), o objetivo último.

Daí decorre que não faz sentido, para um liberal (o caso do marxista é um pouco diferente), trabalhar com um governante com tendências liberticidas. Guedes, reconheça-se, não foi o único a cair na armadilha. O próprio Hayek e vários de seus associados da Escola de Chicago apoiaram a ditadura de Pinochet, para recordar um único caso.

O problema, arrisco diagnosticar, está na natureza humana. Não foram poucos os filósofos que se mancomunaram com tiranos pela vaidade de ver suas ideias implantadas no mundo real. Se nem Platão resistiu, não seriam Hayek e o Manjubinha que o fariam. ​

Errei: Hayek também deu declarações favoráveis à ditadura de Pinochet. A filosofia não o protegeu de negar o que ele próprio escrevera, o que faz pensar se o problema não está na natureza humana.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do afirmado na primeira versão da coluna, Friedrich August ​von Hayek deu declarações favoráveis à ditadura de Augusto Pinochet. O texto foi modificado após a primeira publicação.

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