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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Ciência sem brincadeira

Livro mostra que ganha espaço discurso assentado em bases filosoficamente frágeis

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Helen Pluckrose e James Lindsay são traquinas. Em 2017 e 2018, eles escreveram, com Peter Boghossian, uma dúzia de artigos sem pé nem cabeça envelopados em jargão acadêmico pós-estruturalista e os enviaram a periódicos de humanidades com revisão por pares.

Eram textos verdadeiramente loucos, como um que defendia a tese de que o pênis é uma construção social concebida para oprimir mulheres e é um dos operadores conceituais da mudança climática.
Como o leitor já deve ter adivinhado, várias dessas peças foram aceitas e publicadas. O megatrote rende boas risadas, mas não prova muita coisa. Experimentos semelhantes já foram feitos com periódicos de "ciências duras", produzindo resultados semelhantes.

Agora, Pluckrose e Lindsay resolveram falar a sério. Publicaram "Cynical Theories", uma crítica mais estruturada à chamada Teoria Crítica, que inspira os estudos de gênero, raça, pós-coloniais e "queer". A dupla fez a lição de casa, trocando o deboche pela leitura dos textos capitais dessa corrente de pensamento.

Os autores mostram com algum detalhamento como a Teoria Crítica se desenvolveu a partir do pós-estruturalismo, mais especificamente de autores como Derrida, Foucault, Barthes etc. Mas, enquanto o pós-estruturalismo original se sustentava num ceticismo forte, que tinha por meta só desconstruir discursos, a Teoria Crítica quer ficar com a omelete e os ovos.

Para Pluckrose e Lindsay, a Teoria Crítica se vale do desconstrucionismo para desmontar dogmas alheios, mas se recusa a aplicá-lo aos seus próprios. Ao contrário, toma qualquer crítica a seus pressupostos como evidência da existência de um complô do patriarcado branco cisnormativo para manter o "statu quo".

"Cynical Theories" não chega a ser um livro brilhante, mas é esclarecedor. Mostra, sem brincadeira, que o tipo de discurso que vai ganhando espaço na sociedade se assenta em bases filosoficamente frágeis.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman de 9.mai.2021 - Annette Schwartsman

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