Siga a folha

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Entre o amor e o mal

Há perdão para pessoa do seu círculo de relacionamentos que abraçou o hitlerismo?

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Há perdão para os nazistas? A resposta “não” é a mais frequente e torna-se praticamente obrigatória se você for uma mulher, alemã, judia e chegou a ficar presa num campo de internamento. Mas e se, em vez de um nazista abstrato, nos referirmos a uma pessoa do seu círculo de relacionamentos que abraçou o hitlerismo?

Poucos filósofos pensaram o mal e a política com a originalidade e a profundidade de Hannah Arendt. A expressão “banalidade do mal”, que ela cunhou para expressar a sem-cerimônia e a irreflexão com que pessoas comuns atuando em regimes totalitários cometiam as piores ignomínias, entrou para a cultura popular. Ainda assim, Arendt não escapou à armadilha descrita no parágrafo anterior.

Hannah Arendt perdoou Martin Heidegger, filósofo que ganhou uma cadeira de reitor por bajular Hitler, que manteve a carteirinha do partido até 1945 e que jamais fez uma autocrítica de sua ligação com os nazistas, mesmo tendo morrido só em 1976. Heidegger fora mentor e amante de Arendt, e eles voltaram a ver-se e a escrever-se após a guerra.

Essa é uma daquelas situações que, se já são difíceis para quem as vive, se tornam um desafio para biógrafos que tentam explicá-las. Ann Heberlein, autora da nova biografia de Arendt que acaba de sair no Brasil (“Arendt: Entre o Amor e o Mal: Uma Biografia”), não se sai mal. Para ela, o amor venceu a lucidez, marca tão característica da filósofa, e ela acabou criando para si uma narrativa meio fantasiosa na qual o envolvimento de Heidegger com o mal se torna muito menor do que de fato foi.

O livro de Heberlein, embora, a meu juízo, não supere a biografia escrita por Elizabeth Young-Bruhel (“Por Amor ao Mundo”), é esclarecedor, gostoso de ler e produz alguns bons “insights”, principalmente quando traz ideias de autores como Koestler, Norbert Elias, Merleau-Ponty, entre tantos outros, para iluminar passagens da vida da filósofa.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas