Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Identitarismo tem problemas de conteúdo e método
É preciso que as más ideias sejam discutidas para que as boas possam triunfar
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
O identitarismo que parece ter-se assenhorado de nossa época, em especial do pensamento de esquerda, tem dois problemas, um de conteúdo e outro de método. Comecemos pelo conteúdo.
A esquerda tradicional cerrava fileiras no universalismo. A igualdade de direitos derivava da humanidade comum, não de características de grupos como negros, mulheres, homossexuais. Não se contesta que essas minorias sofram mais discriminação, o que justificaria priorizar suas demandas. A questão é que o tipo de discurso que se adota faz diferença. Enquanto a esquerda clássica inscrevia o fim da discriminação no contexto de um movimento de emancipação que beneficiaria a todos, a política identitária ressalta as diferenças entre as pessoas sem apontar nada de universal.
Não me parece despropositada a tese de que o deslocamento da esquerda para o identitarismo contribuiu para a polarização e os ressentimentos que hoje alimentam a extrema direita.
A questão do método é ainda mais disruptiva. O identitarismo extrai sua força do discurso moralizante. As questões que o movimento levanta são reais, mas, ao enquadrá-las como apenas morais —e não como argumentos que precisam ser examinados—, ele se sente no direito de interditar o debate, caso não veja no outro lado credenciais éticas que considere aceitáveis. Só que esse julgamento é muitas vezes feito com base em critérios subjetivos como a “ofensividade” do discurso ou até em como indivíduos específicos se sentem em relação a ele. Esse é um beco sem saída, porque não há declaração não trivial que não desagrade a alguém. Daí os cancelamentos e lacrações.
Isso é grave porque, como já ensinava Stuart Mill, precisamos que as más ideias circulem e sejam discutidas para que as boas possam triunfar. Eu diria até que, não fossem os sofistas e a necessidade que Sócrates viu de rebatê-los, não de calá-los, a filosofia como a conhecemos não existiria.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters