Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".
Até quanto autoridades podem roubar?
Qual valor abaixo do qual os casos de corrupção não devem nos preocupar?
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Embalado pela prisão de Milton Ribeiro, escrevi na semana passada uma coluna sobre a corrupção no entorno de Jair Bolsonaro. Vários leitores me recriminaram por não ter feito uma comparação entre os valores que teriam sido desviados na atual gestão e os surrupiados sob a administração petista. De fato, não me debrucei sobre o problema. Até onde é possível analisar, o esquema do petrolão era mais amplo e sofisticado e deve ter resultado em montantes maiores. A proverbial incompetência do governo Bolsonaro vale também para a corrupção.
Não é esse, porém, o ponto que me parece mais interessante. Podemos criticar a corrupção tanto pelo aspecto moral como pelo pragmático. Sob o primeiro critério, valores são irrelevantes. Vale lembrar que uma prostituta que cobre R$ 1 milhão pelo programa não é ontologicamente diferente de uma que cobre R$ 100. Quem discorda dessa avaliação precisa apontar qual é o valor abaixo do qual casos de corrupção envolvendo presidentes e seus familiares não precisam nos preocupar. R$ 100 mil? R$ 1 milhão?
Do ponto de vista pragmático, cifras não chegam a ser desimportantes, mas tampouco são a história toda. É claro que cada centavo de dinheiro público que vai indevidamente parar em bolsos privados é um centavo a menos em saúde, educação e outros serviços relevantes.
A questão é que o montante desviado é só uma parte —e não a maior— dos males causados pela corrupção. Ela também perverte a lógica dos investimentos. Você faz a melhoria A na escola B não porque é dela que a população mais precisa no momento, mas porque esse é o interesse do clérigo C que entrou em conluio com o político D. Paga-se caro por coisas de que não há necessidade. É difícil calcular o custo dessas oportunidades perdidas, mas ele é enorme.
Em qualquer caso, não penso que o princípio da insignificância se aplique a altas autoridades metidas com corrupção.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters