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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Glossogênese

Livro conta a história do surgimento do português e do apagamento do galego

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"Uma língua é um dialeto com exército e marinha." O chiste é de um autor iídiche, Max Weinreich, mas é perfeito para descrever uma realidade da península Ibérica. Portugal foi o primeiro país europeu a tornar-se um Estado e possuir uma marinha. Com isso, não só proclamou que o falar ali utilizado era uma língua distinta do galego como ainda se lançou no projeto nacionalista de apagar os traços deste idioma do qual o português se origina.

É fundamentalmente essa a história que Fernando Venâncio conta em "Assim Nasceu uma Língua". Tiro o chapéu para o autor, que conseguiu transformar o que poderia ser um texto aborrecido, repleto de listas de palavras e tecnicismos linguísticos, em obra acessível e gostosa de ler. Há passagens bem divertidas, como aquelas em que ele impreca contra a reforma ortográfica e os gramáticos prescricionistas.

Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman, publicada também na versão impressa da Folha deste domingo (26 de maio de 2024) - Annette Schwartsman

Gostei particularmente da explicação que Venâncio dá para os dobretes do português, aquelas palavras que aparecem duas vezes no idioma e têm a mesma origem etimológica, como "luar" e "lunar". É que, numa fase posterior, o português recorreu ao espanhol para expandir seu vocabulário. Ao fazê-lo reencontrou as consoantes latinas (no caso o "n") que derrubara no período de formação da língua. Continuarei a dizer IA gerativa em vez de generativa.

Lamento que Venâncio se concentre muito no léxico e trate pouco de outras partes da gramática. Tenho fascínio pelo infinitivo conjugado, um particularismo do galego e do português inexistente em outras línguas indo-europeias. O infinitivo conjugado é uma contradição que carrega um problema metafísico, já que confere atributos de pessoa e número à forma verbal que exprime a ação em estado puro e, pela lógica, não comportaria flexões. Não é que Venâncio não trate do tema, mas o faz tangencialmente, longe da questão ontológica. Fiquei feliz por descobrir que o húngaro também tem um infinitivo pessoal.

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