Hélio Schwartsman

Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

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Hélio Schwartsman

Ainda vale a pena aprender línguas?

Avanço da inteligência artificial reduz razões instrumentais para estudar idiomas estrangeiros

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São Paulo

Com a proliferação de programas de tradução baseados em inteligência artificial, ainda vale a pena aprender uma língua estrangeira? Quem levantou essa bola foi o cientista cognitivo Douglas Hofstadter num artigo para The Atlantic, que logo ganhou coluna-comentário do linguista John McWhorter no New York Times.

Hofstadter vem com a visão mais dramática. As novas tecnologias privarão as pessoas de aprender outros idiomas, conquista que representa uma das mais belas expressões da humanidade de um indivíduo. McWhorter é mais pé no chão. Para ele, os programas até podem eliminar as razões instrumentais que levam alguém a tentar assenhorar-se de uma língua estrangeira, mas não tornarão esse tipo de aprendizado uma atividade obsoleta.

Crianças de 2 a 5 anos aprendem inglês em atividade na brinquedoteca de colégio particular em São Paulo - Raquel Cunha/Folhapress - Folhapress

Embora partilhe com Hofstadter a paixão por estudar idiomas, acho que concordo mais com McWhorter. Penso que estamos diante demais um caso de especialização do trabalho. A maioria das pessoas não está interessada em dominar as singularidades de idiomas, mas apenas em comunicar-se. Para estes, os programas são uma mão na roda. Permitem a compreensão mútua sem cobrar um investimento prévio de centenas de horas de estudo.

É claro que, se sua meta for mais ambiciosa do que pedir um quibe numa lanchonete de Beirute, aí a IA não ajuda tanto. Quem quer mergulhar na cultura de outro povo precisa saber o idioma. Ao menos por enquanto, o domínio da língua é indispensável para traduções literárias e para historiadores e filósofos.

Já vimos esse filme antes. No século 19, para obter cidadania no mundo da cultura, era preciso pensar em latim. Mesmo um físico tinha de comandar esse idioma. Hoje, as línguas necessárias para cada ramo do saber seguem uma lógica "ad hoc". Um físico se vira só com o inglês, mas não dá para tornar-se especialista em Aristóteles sem o grego. Isso já garante que haverá sempre nas universidades uma pequena demanda pelo ensino de línguas.

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