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Jornalista, foi editor de Opinião. É autor de "Pensando Bem…".

Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Nada é sagrado

Na controvérsia sobre a Santa Ceia na abertura dos Jogos Olímpicos, tudo funcionou como deveria

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São Paulo

Cobrado por leitores, manifesto-me sobre a polêmica da Santa Ceia na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Não havia comentado o episódio pela simples e boa razão de que, no que diz respeito às liberdades públicas, tudo funcionou "comme il faut" ("como deveria").

Os organizadores do evento tiveram total liberdade de criação artística, decidiram trilhar um caminho potencialmente controverso e exibiram o resultado para bilhões de telespectadores. Organizações cristãs, notadamente as católicas, não gostaram e exerceram seu sagrado direito de reclamar. As duas coisas proibidas na democracia, que são o recurso à violência física e a tentativa de sequestrar o poder do Estado para censurar, não foram, até onde vi, nem sequer cogitadas.

Encenação nos Jogos de Paris fez alusão à pintura A Última Ceia (imagem inferior) - Reprodução/X

Para parte do público atual, em especial o mais jovem, o objetivo da democracia é promover valores e integrar as pessoas numa espécie de comunidade moral global. Desconfio até de que os organizadores da cerimônia trabalhavam com essa perspectiva. É um sonho bonito, mas receio que impraticável. Insistir nele é pedir à democracia algo que ela não pode entregar.

Pessoas mantêm e cultuam ideias diferentes e frequentemente inconciliáveis. A simples afirmação da existência do Deus único das religiões monoteístas nega as convicções de quase 1 bilhão de hinduístas, que cultivam uma tradição panteísta. Não há ecumenismo que conserte isso. E processos análogos valem para outras famílias de ideias, não só as religiosas.

O corolário é que a democracia precisa mirar mais baixo. Ela já pode ser considerada exitosa se for capaz de fazer com que as pessoas vivam suas diferenças sem se enfrentar em batalhas campais nas ruas. Isso exige tolerância e capacidade de engolir alguns sapos. Nenhum grupo pode esperar que suas crenças sejam colocadas num altar e permaneçam para sempre ao abrigo de críticas e contestações. Na democracia, nada é sagrado —e é assim que deve ser.

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