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Jornalista especializada em vinhos, editora executiva da revista Gama e autora da newsletter Saca Essa Rolha

O segundo vinho mais barato é a melhor pedida?

Para evitar o climão na hora da conta, não se constranja em dizer ao sommelier quanto quer gastar

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O que fazer quando você não sabe o que fazer? Quando estamos em um restaurante, com a carta de vinhos na mão, e não temos ideia do que pedir? Esse é o dilema de muitos, que podem sentir algo entre insegurança e até impotência num momento em que querem impressionar alguém ou apenas sentir prazer com uma tacinha.

Garrafas de vinho em uma fileira - Divulgação/Guaspari

Um vídeo de humor que voltou a circular nas redes sociais aponta para uma estratégia bastante popular: escolher o segundo vinho mais barato da carta, que é feito com "as segundas uvas mais baratas", e está sempre na frente da vitrine, "assim os vendedores não vão julgá-lo enquanto você o procura". Você não será visto como sovina por seu acompanhante e, na taça, será melhor que a opção mais barata.

Mas há uma corrente que refuta a estratégia ao pregar que esses vinhos têm a maior margem de lucro para o restaurante. Já fui questionada sobre isso por amigos, mas usei como base para a resposta um estudo feito por pesquisadores da London School of Economics e da Universidade de Sussex que analisou centenas de cardápios e concluiu que muitas vezes o segundo vinho da carta costuma ser o melhor custo-benefício, transformando a teoria da margem de lucro abusiva em lenda urbana.

Não vou com tanta sede à taça e encerro a discussão porque há dicas mais interessantes que podem ajudar quem olha a carta sob as trevas da incerteza enófila. A sommelière Gabrielli Flemming, sócia do Cepa, afirma que o vinho mais barato da casa não deve ser descartado, afinal, a carta é fruto do trabalho de pesquisa de um sommelier, que obviamente não vai querer ser reconhecido por escolher vinhos ruins.

Marcelo Fonseca, do Evvai, lembra que há muita coisa por trás do preço. Um valor mais baixo pode significar que aquele é um vinho mais simples (o oposto de complexo e não de bom), sem passagem por barrica, por exemplo, etapa que encarece bastante o processo de produção de uma bebida. Fonseca nota que, no Evvai, os vinhos com preço médio são os que saem mais e que o mais caro só sai quando quem pede quer impressionar seus convidados.

Buscar a orientação do sommelier para escolher é a dica de dez entre dez profissionais do vinho em qualquer parte do mundo, seja em São Paulo, seja em Tóquio. A sommelière do carioca Lasai, Maíra Freire, que ganhou o Prêmio de Sommelier 2024 do Guia Michelin, conta que dá três opções de vinho quando é solicitada, sempre com uma opção mais em conta, para que o cliente que não quer ou não pode gastar tanto não se sinta constrangido.

Ideal mesmo é não ter constrangimento algum em dizer ao profissional o quanto se quer investir em uma garrafa. Esse tipo de informação funciona para receber uma dica mais certeira e como um colete salva-vidas para evitar casos como o dos amigos de Salvador que pediram por engano um Pêra Manca branco, um rótulo de R$ 1.650, achando que pagariam R$ 165 por ele. Disse ao F5 e repito: sorte a deles que não foi o tinto, três vezes mais caro. "Isso deve ter sido desatenção, somos a geração dos desatentos, não prestamos atenção em nada, vivemos no mundo da lua. A internet está fazendo isso com o nosso cérebro", diz Flemming.

Difícil não concordar, mas bom lembrar também que, com a carta na mão e um celular na outra, podemos checar muita informação sobre os vinhos, de fichas técnicas a preços, e ter uma ideia mais apurada do que estamos pedindo, sem terríveis surpresas.

Vai uma taça?
Quando a temperatura cai, bom provar um tinto como o espanhol Castillo de Eneriz Crianza 2020 (R$ 122, Premium Wines), que traz fruta, especiaria e chocolate graças a seus 18 meses em barrica. Além dessa festa olfativa, há muita textura na boca. Para quem quer gastar menos, a dica é o alentejano Ciconia (R$ 56, Cantu), que é simples, mas envolvente e traz boa fruta. Para quem é de branco, o brasileiro Vallontano Chardonnay 2023 (R$ 129, Mistral), com 13,5% de álcool, é uma boa pedida para o inverno e o fondue.

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