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É publicitária, escritora e produtora de conteúdo. Autora de "E Se Eu Parasse de Comprar? O Ano Que Fiquei Fora da Moda". Escreve sobre moda, consumo consciente e maternidade

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Naomi Osaka: suas derrotas e a nossa vitória coletiva

Meu sofrimento era meu, privado, e eu colocava uma máscara de sanidade todos os dias em horário comercial

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Eu nunca tinha ouvido falar de Naomi Osaka até a semana passada. Meu total desinteresse pelo mundo do esporte (do qual, aliás, não me orgulho) havia até então me prevenido de conhecer essa jovem tenista que, aos 26 anos, já venceu 4 Grand Slams e foi a primeira mulher asiática a ser ranqueada como número 1 do mundo.

Até que semana passada fui nocauteada por imagens de Osaka adentrando a quadra em seu jogo de estreia no US Open. A atleta japonesa usava uma jaqueta esportiva branca, adornada com um enorme laçarote verde nas costas. Na parte de baixo, uma saia verde flutuava por cima de diversas camadas de tule branco.

Eu não vi o jogo, mas as imagens do look criativo foram suficientes para aguçar a minha curiosidade.

Ao longo de sua carreira, Naomi acumulou títulos, conquistou recordes e usou seu status para apoiar causas nobres. Mas, ao procurar por seu nome na internet, é possível que a primeira coisa que apareça seja uma manchete sobre o tempo em que se manteve afastada do tênis.

Naomi Osaka calebra sua vitória no US Open - USA TODAY Sports via Reuters

Em 2021, Osaka anunciou que faria uma pausa em sua carreira para cuidar de sua saúde mental. Tempos depois, a atleta diria sobre o episódio:

"Eu me senti envergonhada naquele momento porque, como atleta, é esperado que você seja forte e passe por cima de tudo. Mas eu acho que aprendi que é melhor parar para se recompor e voltar mais forte."

Naomi voltou, mas pausou novamente em 2023 para ter sua filha, Shai.

Seu segundo retorno, em agosto deste ano, tem sido mais difícil do que a atleta havia antecipado. Após sua derrota nas qualificatórias do Cincinnati Masters, a atleta se abriu sobre a dificuldade de se reconhecer após a gestação.

"Meu maior problema neste momento é que eu não me sinto no meu corpo. É uma sensação estranha, perder jogadas que eu não deveria perder, bater a bola com menos força do que eu batia antes."

Ao ler o relato de Naomi, lembrei da minha própria experiência de voltar ao trabalho depois de ter meus filhos. Lembro da confusão mental, da sensação de que eu jamais voltaria a ser eu mesma. Por sorte, não havia câmeras me filmando, nem plateias me observando. Meu sofrimento era meu, privado, particular e eu o ocultei o quanto pude, colocando uma máscara de sanidade todos os dias em horário comercial.

O jogo do US Open foi a primeira vitória de Naomi contra uma atleta do top 10 desde 2020. Ao final da partida, era possível vê-la às lágrimas, emocionada com a confirmação de que sim, ela era capaz de vencer novamente.

Dois dias depois daquela vitória, a atleta perdeu o jogo contra Karolina Muchova.

"Honestamente, eu tinha todo um discurso preparado sobre como estou desapontada, mas estou aqui, brincando com a minha filha, e me dei conta de que eu não poderia estar mais orgulhosa de mim mesma", escreveu a atleta em rede social. "Eu dei à luz um ser humano incrível e ainda joguei no US Open? Uma vitória é uma vitória. Claro, não deu certo desta vez, mas tenho fé de que vai dar."

Naomi pode ter perdido o jogo, mas sua honestidade sobre os altos e baixos de sua jornada são uma vitória para todas nós que atravessamos os mesmos picos e vales. E por esse último post, eu só tenho que agradecer. Obrigada, Naomi, por lembrar a todas as mulheres que estão "voltando" a não perdermos a fé em nós mesmas.

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