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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Superliga dos gigantes europeus: blefe ou pressão?

Doze clubes desafiam as federações em busca de mais dinheiro e poder

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Há algo de novo no reino da Dinamarca, embora não envolva nenhum clube dinamarquês.

O capitalismo selvagem do mundo globalizado apresenta suas armas também no futebol, aparentemente na hora errada.

Fosse antes da pandemia, a ideia dos seis maiores clubes ingleses e dos três espanhóis e italianos provavelmente teria outra acolhida, tanto que os alemães, e os franceses do PSG, estiveram na origem do projeto e agora o rejeitam.

Se porque estão combinados com os 12 fundadores da Superliga não sabemos.

Tudo leva a crer ser mais um movimento para pressionar as corruptas e monopolistas federações do futebol do que para fazer à vera um campeonato continental de 20 potências —e sem acesso e descenso, um contra-senso na cultura do futebol, embora largamente praticado nas ligas esportivas dos Estados Unidos.

Porque a pandemia mudou a cabeça daqueles que pregavam Estado mínimo diante da necessidade da implantação de sistemas únicos de saúde (viva o SUS!) e de dar assistência à periferia planetária mais castigada pela Covid. Fala-se até no fim do Consenso de Washington!

É ou não estranho ver Real Madrid e Barcelona, clubes associativos, juntos com outros de magnatas russos, árabes, americanos? É ou não misterioso que o trilionário catari do PSG diga ser contra, assim como a empresa Bayern Munique?

A ganância despudorada que vigorava, e era estimulada até começar a pandemia, parece encontrar um freio em nome de princípios que andavam esquecidos.

Por outro lado, bobagem achar que tudo não passa de blefe. É mais que isso, é pressão mesmo para os clubes obterem maior autonomia em relação às entidades dirigentes, as que deveriam ser meios e viraram fins em si mesmas.

Escandaloso observar as diferenças.

Jogador do Leeds com camiseta de protesto contra a Superliga em frente ao técnico do Liverpool, Jurgen Klopp - Lee Smith/Reuters

Enquanto a Europa discute campeonatos continentais e Superliga, o país pentacampeão mundial vive às voltas com torneios estaduais e não tem nem sequer uma Liga de clubes.

Sempre é bom lembrar que o embrião da Liga nacional surgiu em 1987, o Clube dos 13, cinco anos antes da Premier League, que revolucionou o futebol inglês.

Como um dia a Lei Bosman, em 1995, estabeleceu novo marco nas relações entre clubes e atletas, e libertou os jogadores de contratos infames e escravocratas, noves fora o egoísmo da iniciativa dos fundadores da Superliga, existe nela uma clara semente libertária. Bem administrada, mudará o patamar de excelência do futebol mundial, com reflexos até na Copa do Mundo, o torneio que perde vigor à medida que o nacionalismo cede espaço para a prática mais generosa do internacionalismo se, de fato, este vingar.

Aí está a grande contradição da proposta, aspecto mais importante do que o dito elitismo, posto que tais clubes representam as maiores torcidas de seus países.

Onde mora o elitismo: na defesa dos interesses do Real Madrid ou do Getafe? Do Flamengo ou do Madureira? Do Corinthians ou do Ituano?

A polêmica tende a tomar conta do futebol mundial e não é tão simples que permita posicionamentos automáticos, contra ou a favor.

Há aspectos negativos e positivos, que precisam ser devidamente pesados à luz dos novos tempos.

O difícil será achar uma posição intermediária, sem temor de rotulações apressadas.

De cara, está claro que não pegou bem, repita-se, mais pela inoportunidade do que pelo projeto em si.
Veremos como a polêmica caminhará.

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