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Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

Onde há jogatina, há corrupção. Por que seria diferente no esporte?

Bonito seria ver a CBF proibir o patrocínio a clubes por casas de apostas

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Voltar a enumerar os casos de corrupção no esporte, especialmente no futebol, por causa de apostas, sejam as legais, sejam as clandestinas, é cansativo, talvez ocioso, mas preciso.

Toda uma geração de brasileiros ficou marcada pela chamada "Tragédia de Sarriá", quando o italiano Paolo Rossi marcou os três gols que eliminaram a melhor seleção brasileira desde a tricampeã mundial em 1970.

Paolo Rossi entre Oscar e Falcão no jogo Itália 3 x 2 Brasil, na Copa 1982, na Espanha - Jorge Araújo - 5.jul.82/Folhapress

Rossi havia sido punido com três anos de suspensão por participar, embora sempre tenha negado, do Totonero, esquema ilegal de apostas na Itália.

Sua pena acabou abrandada para que pudesse disputar a Copa do Mundo na Espanha e ele consagrou-se como grande herói da conquista.

No mesmo ano de 1982, a revista Placar denunciou mais de uma centena de pessoas, entre atletas, treinadores, árbitros e cartolas, que participavam de quadrilhas manipuladoras dos resultados de jogos da Loteria Esportiva brasileira, regulamentada em março de 1970 pela ditadura e administrada pela Caixa Econômica Federal.

Ninguém foi punido, os jornalistas autores da denúncia responderam a processos sem fim e a Loteca caiu em profundo descrédito.

O caso ficou conhecido como o da Máfia da Loteria Esportiva.

Passaram-se os anos e, em 2005, foi a vez da revista Veja denunciar o esquema Edilson Pereira de Carvalho, árbitro responsável pela anulação de 11 jogos do Campeonato Brasileiro que culminou com o contestado título do Corinthians. Era a Máfia do Apito.

Houve, também, o escândalo dos bingos, em 2004, que culminou com a proibição deles, associação da jogatina com os clubes esportivos, sócios de dívidas imensas, porque jamais receberam a parte que lhes deveria ser destinada.

O que se vê agora, ao atingir a Série A nacional, estava mais que previsto e anunciado, não por premonição ou excesso de perspicácia de seus autores, apenas pela constatação do óbvio.

Policiais em ação da Operação Penalidade Máxima 2, sobre manipulação de resultados de jogos da Série A - MPGO

Não cabe aqui entrar em discussões morais sobre apostadores, o gosto pelo jogo, o vício da jogatina, nada disso.

Joga quem quer, frequenta cassinos quem deseja, enriquece a banca quem pode e quem não pode, o direito de ser otário é sagrado.

O busílis está quando envolve o esporte e causa prejuízos a quem o pratica ou o aprecia meramente como torcedor.

Porque põe em risco a credibilidade dos resultados, ainda mais quando se vê anúncios das bets nas camisas dos clubes —e ex-jogadores e até jornalistas como seus garotos propaganda.

Aposto com a rara leitora e com o raro leitor que não há um programa esportivo nos principais veículos do país sem o patrocínio de uma bet qualquer.

Inclusive aqueles com críticos da jogatina, porque a cara de pau é incomensurável e passa a ideia de liberdade de expressão.

O que fazer?

Operação do Ministério Público de Goiás contra fraudes em apostas esportivas em Goiânia - MPGO

Primeiramente, regulamentar a prática no Brasil, coisa que incrivelmente até hoje não se fez.

Taxar no limite do possível os ganhos extraordinários das bancas, excluir as que eventualmente vivam de lavagem de dinheiro e monitorar as apostas extravagantes para garantir o mínimo de segurança sobre a transparência dos resultados.

Em bom português, novo exercício de enxugar gelo, como o combate ao tráfico de drogas etc.

Pois o ser humano é este projeto que ainda não deu certo: ganancioso, adepto do deslize, fissurado numa mamata e até hoje vítima de pirâmides e que tais.

Bonito seria ver a CBF proibir o patrocínio.

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