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Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

Lute como uma crente: dá para ser evangélica e feminista?

Denúncia reacende debate sobre igrejas que acobertam violência doméstica

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"No casamento, me calei e me anulei para tudo", disse a pastora Flordelis na primeira entrevista desde que foi presa. "O evangelho no qual fui criada me colocou como apêndice do pastor Anderson. Esse evangelho dava a ele permissão para controlar a minha vida, me violentar e me agredir permanentemente. Esse evangelho não me serve mais. Peço às mulheres da igreja que saiam dessa vida o quanto antes para não pararem aqui na cadeia como eu."

Na semana passada, enquanto essa entrevista circulava, o mundo gospel discutia denúncias de que o Apóstolo Rina, da Bola de Neve Church, abusa física, financeira e emocionalmente da mulher, a pastora Denise.

É difícil debater machismo e violência contra a mulher em igrejas evangélicas. A conversão fortalece a mulher popular por "domesticar" o homem, tirá-lo do bar, reduzir incentivos para que ele tenha relacionamentos paralelos e por abrir oportunidades para ela atuar fora do ambiente doméstico.

E como o protestantismo é uma colcha de retalhos, com muitas tradições, existem igrejas como a do Evangelho Quadrangular, em que mulheres são protagonistas.

Mas livros como "O Grito de Eva", da jornalista Marília César, apresentam o outro lado dessa história: evangélicas ensinadas a apenas orar pela transformação do marido violento e a não denunciá-lo por se sentirem culpadas por desobedecer o "cabeça" da família.

No contexto da polarização política, igrejas estão retrocedendo nesse tema. Exemplo: quando a psicopedagoga Francine Walsh disse, num evento presbiteriano compartilhado online, que, "se a gente somente escuta as vozes masculinas, a gente cria uma igreja aleijada", choveram ataques. Um dizia: "É por isso que não dão microfone na mão das mulheres… falam o que sentem sem base bíblica e sem lógica nenhuma". Os comentários foram apagados.

Francine Walsh em evento presbiteriano - Instagram

Essa é uma batalha difícil também porque, nos últimos anos, as redes de desinformação bolsonaristas bombardearam evangélicos com vídeos de eventos como a Marcha das Vadias, provocando fiéis a associarem o feminismo apenas à defesa de pautas que lhes são sensíveis, como aborto e educação sexual nas escolas. E a esquecer de bandeiras que aproximam feministas e crentes, como a luta contra a violência doméstica e pela paridade salarial.

Mas há esforços para desfazer esse equívoco. Em live recente da Rede Cristã de Advocacia Popular, uma participante lembrou que pastores que mandam a mulher orar pelo marido que a violenta podem ser denunciados por omissão de socorro. E citou fala da também evangélica Regina Célia Barbosa, cofundadora do Instituto Maria da Penha, parafraseando a Bíblia: "Você dá a Deus o que é de Deus: a oração. E dá ao homem o que é do homem: a denúncia."

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