Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

Por W.O., direita terá o apoio de mulheres evangélicas

Enquanto a esquerda intelectualizada acusa, igrejas evangélicas acolhem

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Analisei neste espaço se a entrada de Michelle Bolsonaro na política era fato ou fake. Michelle é real, confirma a edição 245 do podcast Foro de Teresina, e ameaça o clã Bolsonaro. Ao contrário do ex-presidente, ela é crente raiz e fala com a mulher evangélica e as periferias —lembro que mulheres representam 60% dos 70 milhões de evangélicos brasileiros.

Apesar da oportunidade de disputar esse segmento, a esquerda resiste a dialogar com aquelas que, frequentemente, estão no centro das famílias no Brasil popular. O escritor Anderson França resume, em post profético, por que ativistas de esquerda perderão para a direita a disputa pelo coração dessas mulheres.

"O feminismo, o movimento negro, qualquer movimento, é implacável em apontar o erro, mas inútil, débil e fracassado em reabilitar quem errou. Já a igreja, pega o assassino e transforma em missionário. Pega o missionário e transforma em senador." Sobre as chamadas "mulheres de oração", ele diz: "Elas não te condenam. Mas te abraçam. Elas ouvem, choram junto, oram junto… Visitam os filhos umas das outras no presídio. Os maridos umas das outras no hospital. Não são fascistas nem bolsonaristas. Muitas só entram na faculdade pra limpar as pichações que você fez no banheiro com teu DCE".

Na semana passada, bombaram nas redes vídeos de ações da Igreja Fonte da Vida. Fieis se reuniram em um supermercado e em um shopping para cantar louvores. Ao ver os comentários no Twitter sobre esses eventos, o filósofo Pablo Ortellado, da USP, notou o festival de intolerância. Por exemplo, um perfil escreveu: "Gostava da época que podia só ignorar (os crentes) chamando na porta de casa". Outro: "Ninguém merece essa crentada velha".

Evangélicos cantam em shopping em Petrópolis (RJ)
Evangélicos cantam em shopping em Petrópolis (RJ) - @choquei no Twitter

Evangélicos identificados com a esquerda, como o pastor Alexandre Gonçalves e a teóloga Valéria Vilhena, explicam que eventos assim parecem novidade para quem está distante do mundo pentecostal e neopentecostal. Mas são atividades comuns de evangelização.

A antropóloga Christina Vital da Cunha, da UFF, autora do seminal "Oração de Traficante", diz que essas postagens se disseminaram por causa da dimensão cultural do pentecostalismo em periferias e bairros de classe média baixa. Mesmo quem não é evangélico canta e celebra muitos desses louvores.

Ao ler as reações aos dois eventos, uma interlocutora preta, pobre, evangélica, eleitora de Bolsonaro por causa de Michelle, desabafou: "Me explica por que coisas como essa, que não desonram, não destroem, não causam guerra, incomodam tanto?". No meio do apedrejamento, alguém tuitou: "Cresci na umbanda, amo Jesus, Deus e tudo o que leva a um estado de adoração e amor. Isso é lindo! Se fosse pra Exu também seria! Parem com isso".

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