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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Hipnótica, 'O Assassinato de Gianni Versace' troca lacunas de crime por delírio

Em vez de tentar oferecer explicações, a série ousa e mergulha nos delírios do assassino do estilista italiano

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É o nome de Gianni Versace que está no título da segunda temporada de "American Crime Story", mas é a Andrew Cunanan, o homem que assassinou o designer de moda italiano em Miami, que a produção da FX trazida ao Brasil pela Netflix realmente se refere.

Cunanan, suspeito de ter matado quatro pessoas além de Versace em uma curta onda de crimes em 1997, é um personagem singular cuja morte prematura deixa muitas lacunas a serem exploradas por jornalistas, ficcionistas e tarados por crimes em geral.

Magnético, socialmente hábil, bonito, inteligente, perverso e mentiroso contumaz, deslumbrado com a fama e a riqueza, Cunanan é um trunfo na pele de Darren Criss, que (merecidamente) ganhou um Globo de Ouro pela atuação.

Criss, que já havia trabalhado com o produtor-roteirista Ryan Murphy em "Glee", tem em comum com Cunanan a ascendência filipina misturada à anglo-saxônica, o que torna a semelhança entre os dois impressionante, mas é o carisma que o ator injeta no personagem o que o torna fascinante.

Já seria o bastante para seduzir o público, mas Murphy busca uma quase hipnose.

Para isso, usa o fato de a ação transcorrer no final dos anos 1990 com estética peculiar, e o universo opulento do estilista e da Miami onde ele viveu, para construir um cenário onírico e reforçar o delírio do personagem central.

Tudo é verossímil e nada é certo, e a sacada do roteiro é justamente deixar isso no ar. Cunanan é mitômano; as interações que vemos entre ele e Versace na tela, para além do desfecho, teriam de fato ocorrido? (Há relatos, mas não registros, a corroborá-las).

Até hoje, por exemplo, ele é suspeito de ter torturado e matado o septuagenário empreiteiro Lee Miglin, a quem supostamente seduziu, mas ninguém sabe o porquê.

Seus alvos foram de um ex-namorado a um amigo ao breve amante rico ao dono de uma picape anônimo, até chegar em Versace, por quem aparentemente era obcecado.

Ao invés de tentar oferecer explicações, a série toma um caminho ousado ao mergulhar nos delírios do assassino.

Cai bem ao estilo de Murphy, cuja habilidade para o pop transpira não só nos roteiros, mas também na fotografia e nas composições de cena decibéis acima da sobriedade que virou norma nas produções mais prestigiadas.

E é difícil tirar os olhos de Criss, mas há mais.

Edgar Ramírez está ótimo como Versace, e Penélope Cruz, em versão loira, faz o que pode como Donatella, a irmã que assumiu a marca. Rick Martin, como Antonio D'Amico, o marido do estilista, é um bônus no elenco.

Mais do que o assassinato, porém, é a fresta para o submundo de quem é ou foi impelido a esconder sua orientação sexual, provê a verdadeira voltagem dramática da série.

Também é educativo ver como éramos no nosso consumo do noticiário de celebridades em uma época que precede a do dia a dia de famosos e anônimos milimetricamente esquadrinhado em redes sociais. Parece mais, mas são só 20 anos que nos separam.

"American Crime Story: O Assassinato de Gianni Versace" está na Netflix

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