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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Disque Amiga para Matar', na Netflix, trata de luto com graça e sensibilidade

Dramédia com Christina Applegate traz viúva obcecada em descobrir quem atropelou o marido

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Tema espinhoso, o luto tem inspirado roteiristas de séries recentes como “O Método Kominsky” (Netflix) e “Sorry for Your Loss” (Facebook). Pois a dificuldade em transpor o buraco que é a morte de alguém que amamos dá mais um bom fruto dramático em “Disque Amiga para Matar” (Netflix).

 

Esqueça o nome infame que a série ganhou no Brasil, preguiçosamente inspirado no brilhante suspense de Alfred Hitchcock “Disque M para Matar”, de 1954. Há segredos, mas não estamos nem perto aqui.

O que não significa que esta dramédia com Christina Applegate como uma viúva recente obcecada em descobrir quem atropelou o marido —originalmente intitulada “Dead to Me”, ou “morto para mim”— não seja divertida, delicada e às vezes tocante.

Applegate se mostra uma comediante afiada desde “Um Amor de Família”, de 1987 a 1997, em que fazia a fútil Kelly, filha do turrão Al Bundy de Ed O’Neill. “Dead to Me” lhe dá a possibilidade de flexionar os músculos dramáticos.

Ela é Jen, uma corretora de imóveis com dois filhos, um adolescente e um pré-adolescente (Sam McCarthy e Luke Roessler —preste atenção no último, promissor), repentinamente sem o sujeito com quem dividiu 15 anos, a casa e o dia a dia dos meninos. 

A série acompanha suas fases pelo luto (as cinco estabelecidas pela psiquiatra Elizabeth Kübler Ross): negação, raiva, barganha e depressão —a incógnita do roteiro é se ela conseguirá alcançar a quinta, a aceitação.

Sem família ou amigos próximos além do sócio, ela encontra um ombro em Judy (Linda Cardellini), que conhece em uma reunião de pessoas que passaram por perdas. 

A de Judy, primeiro ela diz, é a do marido (James Marsden), que logo se revela uma separação. Então vem à tona que um dos motivos de ela estar ali é o fato de ter sofrido sucessivas perdas gestacionais, uma com gravidez avançada.

As duas mulheres, que, como a ficção prefere, não poderiam ter personalidades mais díspares —Jen, sisuda e e diligente; Judy, alegre e avoada— se tornam melhores amigas. Aos poucos os traumas e culpas que escondem vão vindo à tona e sendo compartilhados.

Liz Feldman, uma roteirista sutil que tem como produtores o humorista Will Ferrel e o diretor Adam McKay (“Vice”), usa o luto para mostrar lacunas perenes que rondam a vida. A mais difícil de preencher, a série aponta, é a de confiança. Mas também estão lá a de amor próprio, a de perspectiva, a de maturidade.

Delicada também é a forma que a autora lida com a dor das mães que não puderam segurar seus bebês nos braços, frequentemente ignorada quando se fala de luto. 

Cardellini, que atraíra atenção em “Mad Men” como a voluptuosa Sylvia, vizinha de Don, constrói em muitas camadas esse sofrimento. 

Em meio a tantas séries que tratam da ligação entre duas mulheres por laços de apoio e amizade, “Dead to Me” sobressai por fazê-lo com naturalidade. Jen é uma solitária convicta, e aos poucos se percebe que Judy, a parte sorridente do duo, é mais ainda.

‘Disque Amiga para Matar’ tem seus dez episódios disponíveis na Netflix, com a segunda temporada encomendada

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