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Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Em 'Cara x Cara', nova série da Netflix com Paul Rudd, ser um 'eu melhor' é um peso

Nessa dramédia curtinha , Rudd é Miles, sujeito enfadado com a própria vida que se vê clonado

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Quem já pensou que seria ótimo ter um clone para tomar seu lugar nas tarefas chatas? Ou acredita na máxima segundo a qual podemos todos nos tornar a versão melhor de nós mesmos, não importa dores, perrengues, desgastes?

É nesses dois pontos que se apoia a simpática “Cara x Cara” (releve o nome horroroso; o original “Living with Yourself”, ou “convivendo com você mesmo”, ficaria melhor como “Se Aguenta”).

Nessa dramédia curtinha que a Netflix acaba de pôr no ar, Paul Rudd é Miles, sujeito enfadado com a própria vida que, ao aceitar a dica de um colega e ir para um spa, se vê inadvertidamente clonado e descartado em uma cova rasa com a expectativa de que não sobrevivesse.

A partir daí —e com algumas reviravoltas—, Marvin será obrigado a conviver não só com seus problemas e defeitos, mas com o contraponto de ter uma versão feliz e prolífica de si mesmo para confrontá-lo com o fato de que ele é uma sombra do que foi e do que poderia ser.

A roupagem atual não disfarça que “Cara x Cara” tem o pé fincado na literatura vitoriana. Funciona, por exemplo, como releitura às avessas de “O Médico e o Monstro” (de Robert Louis Stevenson), em que o honorável dr. Jekyll cria uma poção que o transfigura e lhe permite dar vazão a seus instintos torpes sob a pele do sr. Hyde.

Transparece ainda algo de “O Retrato de Dorian Gray”, de Oscar Wilde, e “Frankenstein”, de Mary Shelley, ambas sobre a dualidade humana com um quê de fantástico.

Diferentemente das obras literárias, a série prefere o humor ao suspense para cutucar feridas existenciais.
O tema foi visto recentemente em duas tramas protagonizadas por mulheres, a ficção científica “Orphan Black” (BBC) e a comédia de humor negro surrealista “Boneca Russa” (Netflix).

Mesmo com roteiro aquém das duas, a série tem protagonista (Rudd, 50) equiparável a Tatiana Maslany e Natasha Lyonne, à altura da missão.

Seu ar perpetuamente juvenil cabe perfeitamente no papel, e impressiona vê-lo contracenar consigo mesmo com personalidades tão díspares mas não totalmente dissociadas (o ator disse em entrevistas ter usado gravações em áudio para se guiar). 

Apesar da pitada de comédia romântica, é um papel mais nuançado que a dos heróis desajeitados que marcaram sua carreira até que o fenômeno “Avengers” o lançasse, na pele do Homem-Formiga, à estratosfera da fama —o que deve ser reforçado pelo protagonismo na versão 2020 de “Os Caça-Fantasmas”.

Com Rudd e o texto mordaz de Timothy Greenberg, ex-roteirista do “Daily Show”, “Cara x Cara” se torna um programa reconfortante, mas com mais dimensões que um passatempo fugaz.

A presença da comediante irlandesa Aisling Bea e o formato em 25 minutos arrematam com capricho a fórmula.

“Cara x Cara” está disponível na Netflix

Erramos: o texto foi alterado

O nome do personagem de Paul Rudd é Miles, e não Marvin como dito em versão anterior. O texto foi corrigido.

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