Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.
Alain Delon e o desejo de morrer em paz
Políticas públicas baseadas na ciência podem amenizar a dor do fim da vida
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Alain Delon anunciou que realizará suicídio assistido e, assim, reacendeu o debate sobre um tema polêmico, quase tabu. Apenas nove países legalizaram o suicídio assistido e, desses, só cinco permitem a eutanásia. Humanos não gostam de falar sobre a morte (menos ainda sobre a vontade de morrer). Como crianças, temos medo do escuro. Assim, tendemos a colocar políticas públicas sobre esse tema para baixo do tapete, mas o fato é que muitos de nós, um dia, estaremos na situação em que a morte seja desejável.
Quero tratar, aqui, de outra possibilidade: a de que a morte seja manejável. Para aliviar a dor física de pacientes terminais, as drogas "depressoras do sistema nervoso central (SNC)", como a morfina, são as mais usadas. Porém a dor fundamental é existencial: o vislumbre do fim da vida. Nesse caso, pesquisas com drogas "modificadoras do SNC", conhecidas como "alucinógenas" (psilocibina, LSD, DMT etc.), mostram resultados promissores.
O problema é que vários alucinógenos estão na lista de substâncias proibidas pela Convenção sobre Drogas da ONU que é seguida pela maioria dos países. Resultado: entraves nas pesquisas, que estariam mais adiantadas, devido a mais um tabu. Em uma delas, realizada pelo psiquiatra Stephen Ross (Universidade de Nova York), 29 pacientes com câncer que tomaram apenas uma dose de psilocibina (substância presente em alguns cogumelos) atestaram declínio significante da depressão e da angústia. Após seis meses, sem outras doses, 70% ainda mantinham essa melhora. Os pacientes relataram que tiveram experiências sensoriais de paz, amor, e, principalmente, de perda do medo da morte.
Alguns alucinógenos são chamados de enteógenos. Vemos, aqui, a beleza da etimologia, que encapsula complexidade em uma palavra: "enteógeno" tem raiz no grego (similar a de "entusiasmo") e significa "gerador do divino interior". Termo apropriado para representar uma relação mais serena com o fim da vida e, quiçá, com o que virá depois.
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