Siga a folha

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

A polarização não acaba aqui

Ainda teremos longos anos de agressividade não apenas no campo político, mas também no mundo da vida

Assinantes podem enviar 5 artigos por dia com acesso livre

ASSINE ou FAÇA LOGIN

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Lygia Maria

O Brasil elegeu um novo presidente. No momento em que escrevo, o pleito ainda não foi encerrado, mas, na última semana, pensei que, independentemente do resultado, o lado bom seria acabar com toda essa agressividade que vimos durante uma das campanhas mais polarizadas da história recente do país. Todavia meu otimismo logo levou uma rasteira da realidade. A violência não findará. O estrago causado pela polarização política entranhou-se na cultura brasileira.

Isso porque, em vez de criar problemas novos, preferimos manter os antigos. Que respiro seria um governo que pelo menos nos tirasse dessa oscilação infrutífera entre PT e Bolsonaro. Que alívio seria focar nos problemas que de fato afetam a população, em vez de ficar discutindo abstrações como fascismo e comunismo.

O descalabro não se restringiu apenas à campanha eleitoral, invadiu o cotidiano: pais brigaram com filhos, casais se separaram e amizades foram desfeitas. Esse fenômeno resulta da ideia, em voga nos anos 60 e 70, de que "tudo é política". O que você come, a música que escuta e até o sexo manifestariam uma ideologia.

Essa forma de encarar a política é, na verdade, um puritanismo laico: todo e qualquer aspecto da vida é ocasião para dar glórias a um político ou a uma causa. Qualquer filigrana cotidiana pode ser um pecado que exige penitência.

O estrago está feito e não há vislumbre de mudança no horizonte próximo. A oposição ao eleito continuará raivosa e a polarização ainda perturbará a vida do cidadão que quer apenas emprego, botar comida na mesa e se divertir aos domingos.

Milan Kundera, em ensaio no qual trata justamente da politização da vida e dos afetos diz que "a ferida mais dolorosa é a das amizades feridas, e nada é mais tolo do que sacrificar uma amizade pela política".
Se o escritor que viveu a "Primavera de Praga" acha isso, talvez tenhamos o dever de aprender a conviver com nosso avô reacionário ou com aquele amigo comunista dos tempos da faculdade nos próximos anos.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas