Há algo de podre no reino do Conselho Federal de Medicina (CFM). Não satisfeito em liberar prescrição de cloroquina na pandemia —indo contra a OMS—, agora proibiu a indicação médica do canabidiol (CBD), princípio ativo da maconha com uso medicinal atestado pela ciência.
A resolução da entidade autoriza a prescrição só para crianças e adolescentes diagnosticados com dois tipos de epilepsia ou com esclerose tuberosa.
Considerando que o CBD ameniza sintomas de diversas doenças e condições clínicas (esclerose múltipla, Parkinson, Alzheimer, autismo, fibromialgia, glaucoma, asma, insônia, depressão, alguns tipos de câncer, náuseas causadas por quimioterapia), a resolução funciona, na prática, como proibição extensa.
A gama de transtornos aliviados com o CBD é grande porque nosso corpo possui um mecanismo de comunicação entre os neurônios chamado de sistema endocanabinoide, que regula as relações que o organismo mantém com o mundo externo (emoções, memória, humor, dores, apetite). Ou seja, produzimos canabinoides naturalmente ("endo", do grego "éndon", significa "dentro").
CBD é um entre dezenas de canabinoides da maconha; o outro mais conhecido é o THC. O CBD não produz efeito alucinógeno, o THC sim, e o preconceito contra a planta advém desse efeito. Uma contradição, já que outras substâncias que alteram a consciência, como o álcool, são legalizadas.
Assim, a resolução do CFM é não apenas um atestado de preconceito como também de ignorância científica. Além disso, demonstra desprezo pelo sofrimento de milhares de pacientes (em 2021, a Anvisa concedeu 32.416 liberações de importação de CBD), algo inaceitável vindo de uma entidade que representa a atividade médica.
Sobre a maconha, o cientista inglês Robert Hooke disse, durante discurso na Royal Society, em 1689: "não há motivo para medo, embora possa haver para riso". Lá se vão mais de três séculos e o CFM ainda está no escuro, com medo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.