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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

Ódio is the new black

Uns fumam cigarros, outros bebem Corote, eu leio comentários

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Uma receita de caponata: “Parece vômito”. Vídeos de cabritinhos de suéter: “Aff, com tanta criança passando frio”. Um tutorial sobre como fazer um pterodáctilo de origami: “Que nojo, só consegui prestar atenção nessa unha carcomida”. Notícias sobre o envolvimento de Bolsonaro no escândalo de Itaipu: “Aceita que dói menos”. 

Não importa o que eu esteja buscando na internet, sempre vou encontrar um comentário para desalinhar os meus chacras.

O verdadeiro sábio é aquele que resiste ao impulso autodestrutivo que nos arrasta até o nono círculo do inferno, também conhecido como a seção de comentários: um lugar virtual para onde você vai quando quer passar raiva e involuir espiritualmente. 

É mais um daqueles hábitos que a gente sabe que faz mal e não faz nada a respeito. Uns fumam cigarros, outros bebem Corote, eu leio comentários. É tóxico, acaba com o meu colágeno e vai me tirar alguns anos de vida, mas é mais forte do que eu. 

Só quem se viu em situações extremas, chafurdando em comentários biltres do grupo de Facebook “Alerta Leblon” às três da manhã, sabe do que estou falando. É a completa degradação da dignidade humana. 

Perdi a conta de quantas respostas já rascunhei dentro da minha cabeça por horas. Nunca postei nenhuma. Mesmo aquecida pelo manto da razoabilidade, conceder uma resposta a um hater é condecorá-lo com a atenção que ele tanto almeja. 

Por isso, quando quero fazer justiça com as próprias mãos, entro em uma banheira com sais e, ouvindo 
músicas da Enya, denuncio comentários de ódio enquanto tento não surtar. É um trabalho incansável. De nada, humanidade.

Já me disseram que levo os comentários muito a sério. Como eu queria que tudo fosse só uma brincadeira de algum moleque infeliz. Mas, do submundo virtual, o discurso de ódio chegou ao mainstream. O ódio uniu 58 milhões de pessoas no Brasil, que elegeram o hater preferido dos haters. 

Saudades de quando o lugar das declarações infelizes era lá no finalzinho da página e a gente tinha que rolar a barrinha para baixo infinitamente. Agora, elas estampam as manchetes quase todos os dias. A seção de comentários é aqui.

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