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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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É preciso falar dos brasileiros que não são lockdowners nem ivermectiners

Na complexa visão de mundo dessas criaturas híbridas, o coronavírus é sensível às subjetividades humanas

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No contexto de pandemia-fazendo-aniversário no qual estamos inseridos, me parece haver três categorias de indivíduos. Os que acreditam na ciência. Os negacionistas. E os que conseguem a façanha de acreditar na ciência e negá-la ao mesmo tempo, em um contorcionismo ideológico digno do Cirque du Soleil.

Muito tem se falado sobre os negacionistas que, além de imbecis completos, são diretamente responsáveis pela crise que estamos atravessando e continuam impunes, disseminando sua ignorância letal. Mas hoje vamos nos permitir falar um pouco da terceira categoria, esses indivíduos fascinantes que vivem na zona cinza e não são nem lockdowners nem ivermectiners.

Ilustração de Silvia Rodrigues para a coluna de Manuela Cantuária de 9 de março de 2021 - Silvis/Folhapress

Na complexa visão de mundo dessas criaturas híbridas, o coronavírus é um micro-organismo que, apesar de não possuir sistema nervoso, é extremamente sensível às subjetividades dos seres humanos e se adapta às necessidades de cada um de nós.

Dentro desse cenário, se o indivíduo quiser tirar a máscara para fazer um selfie com os amigos, não tem problema, porque o vírus saberia detectar quando seu alvo está posando para as redes sociais, ficando automaticamente inativo, e só voltaria a agir quando a máscara fosse recolocada.

Eles também partem do consenso de que o uso da máscara deixa o Sars-Cov-2 vulnerável. Até mesmo se ela estiver no queixo ou deixando o nariz à mostra, já que os receptores do coronavírus seriam capazes de captar o recado: sim, a porta pode estar escancarada, mas o vírus não é bem-vindo ali. Isso geraria uma espécie de gatilho no micro-organismo, que se afastaria em busca de acolhimento em hospedeiros mais receptivos.

A cepa do vírus também se comoveria facilmente com a pauta do autocuidado. A pandemia está em um de seus momentos mais críticos? Sem dúvidas. Mas se retocar sua balayage é fundamental para a sua autoestima, o vírus sentirá isso reverberar lá no fundo do nucleozinho dele, cedendo uma trégua no contágio em prol da vaidade humana.

Seja no salão de beleza, na academia, até em uma loja de roupas em um shopping center lotado em pleno domingo, abuse e use da desculpa “eu preciso cuidar um pouco de mim”, pois ela possui 100% de eficácia contra o vírus, segundo estudos levantados por pessoas que não levam estudos a sério.
Se acreditar em um vírus cordial soa tão absurdo, o que dizer dos que acreditam em Jair Bolsonaro?

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