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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Monark, o cancelado, pode até perder seguidores, mas nunca a arrogância

Não dá para se comover com homem branco de classe média alta que se diz vítima de caça às bruxas

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Precisamos falar do drama do homem branco, hétero, cis, de classe média alta e cancelado. Que viu mensagens de ódio brotando mais do que chuchu na serra em sua inbox. Que perdeu contratos e ficou um pouco menos rico. Que precisou dar um tempo das redes sociais e encarar o abismo de existir no mundo real.

Um homem disposto a lutar por seus privilégios, e que não está sozinho nessa batalha. Conta com um time jurídico de peso, um intenso media training, um escritório inteiro de assessoria mobilizado para gerir sua crise de imagem. O resultado dessa força-tarefa é o canto do cisne do cancelado: o vídeo de retratação.

Ilustração publicada em 14 de fevereiro - Silvis

Apesar de todo o investimento em um pedido de desculpas, o roteiro pouco varia. O resultado, também. É como assistir a alguém tentando apagar um incêndio com galões de gasolina.

"Vocês entenderam errado." O cancelado pode perder seguidores, mas jamais perderá sua arrogância. Espera que as pessoas o perdoem insinuando que elas são burras.

"Peço desculpas a quem tenha se sentido ofendido." Como se o ato não fosse ofensivo em si e dependesse da recepção para se tornar condenável.

"Eu estava bêbado." A lista de malefícios causados pelo excesso de bebidas alcoólicas acaba de ganhar um novo item: o risco de cancelamento. Sendo um transplante de fígado muito menos complexo do que a restauração da própria imagem.

E, por fim, a crítica à cultura do cancelamento, tecida por um relato emocionado de quem se tornou alvo de uma caça às bruxas. Entre tantos absurdos, essa comparação merece um lugar de destaque. A caça às bruxas foi um genocídio que massacrou centenas de milhares de mulheres, submetendo-as às torturas mais cruéis. E pelos motivos mais esdrúxulos, como se recusar a se casar ou ter filhos, manipular ervas medicinais, ou sofrer de algum transtorno psicológico.

O homem cancelado, que teve seus dados expostos na internet e seu CPF usado para se cadastrar como mesário voluntário nas eleições, tenta nos convencer de que está sendo punido como as bruxas do século 17. Cobra a empatia que nunca foi capaz de sentir. Sua narrativa que não comove, nem acrescenta, nos leva sempre à mesma conclusão: era melhor ter ficado calado.

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