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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

Descrição de chapéu machismo

O movimento feminista e o boy lixismo cultural

Usar esse discurso põe os homens mais uma vez em primeiro plano

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Durante milênios —mais especificamente a partir da Idade do Bronze, quando surge a ideologia patriarcal— o gênero feminino foi reduzido a um estereótipo. Um estereótipo submetido à expectativa masculina de como uma mulher deve se comportar. Mulher é assim, mulher é assado, e nessa brincadeira se consolida uma visão de mundo que sustenta todo um sistema opressor de gêneros.

E ainda que desde a Idade do Bronze tenham existido mulheres que lutaram pelos nossos direitos, o movimento feminista só começa a se articular na Revolução Industrial, dando origem ao feminismo contemporâneo, que surge na década de 60. Esse movimento político relativamente jovem em comparação a uma ideologia milenar vem ganhando cada vez mais força, dado que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Em 1968, em protesto contra o concurso Miss América, nos EUA, feministas jogam sutiãs, espartilhos, panelas e revistas pornográficas no lixo - William Sauro/The New York Times

Mas esta é uma coluna de humor, então vamos ao que interessa. Quem acompanha meu trabalho sabe que não resisto a fazer piadas com o gênero masculino. Essa inversão faz com que homens que durante toda a vida riram de estereótipos femininos reajam dizendo: "Pô, não precisa generalizar".

É indiscutível que rir (para não chorar) de comportamentos masculinos que por tanto tempo foram considerados naturais tem um imenso potencial transformador. É uma ferramenta útil, mas não pode ser a única. Digo isso porque tem me chamado a atenção um fenômeno que chamo de "boy lixismo cultural", uma intensa produção de conteúdo feminista que bate na tecla de que todos os homens são boys lixos.

O que define o patriarcado é o protagonismo masculino. E martelar esse discurso coloca o gênero masculino mais uma vez em primeiro plano, no centro do debate.

Essa tendência, por si só, não é vantajosa para a autoestima feminina. Se o opressor é tão limitado e previsível, como consegue exercer algum poder sobre as mulheres? Quando uma mulher cai no papo de um boy lixo, é inevitável que ela acabe se autoflagelando por ter se submetido a esse papel, enquanto as feministas ao seu redor insistem que não foi por falta de aviso.

Essa inversão precisa ir além da superfície e colocar as mulheres em primeiro plano. Quando focamos no boy lixo, não observamos nossos próprios gatilhos, bloqueios, inseguranças. E quem não se observa não se transforma.

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