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Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

Quando uma criança é assassinada pelo Estado, não vejo a mesma energia

Pensei em um projeto de lei que achei a sua cara: para quem defende a proibição do aborto, a adoção deve ser obrigatória

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Você é contra o aborto em qualquer situação, independente das circunstâncias? Então esse texto é para você. Spoiler: sim, sou a favor do aborto, mas não vou tentar te convencer a mudar de ideia. Escrevo com a esperança de que podemos, juntos, construir um mundo melhor para as futuras gerações não abortadas.

Vou começar pelo carro-chefe da argumentação antiaborto, o abre-alas da avenida pró-vida, a menina —ou feto— dos olhos da bancada evangélica: a justificativa de que o aborto é o assassinato de um bebê.

Ilustração de Silvis para coluna de Manuela Cantuária de 25 de junho de 2024 - Folhapress

Não concordo com essa comparação, até porque acabei de me posicionar a favor do aborto em um dos jornais de maior circulação do país. Tenha em mente que, quando uma pessoa defende o aborto, a chance de essa pessoa, assim como você, ser contra o assassinato de bebês é de 99,99%. Ela só tem uma visão do aborto que é diferente da sua.

Sendo bem franca, eu queria muito acreditar que toda essa mobilização antiaborto fosse motivada por um instinto de proteção às crianças. Mas fica difícil comprar essa história de quem quer obrigar criança a ter o filho do próprio estuprador, sabe?

Quando uma criança é assassinada pelo Estado, não vejo você com essa mesma energia, com esse brilho no olho. Sendo que no Brasil, segundo a Unicef, 19 crianças e adolescentes são assassinados por dia —por quem supostamente deveria protegê-los, na maioria dos casos.

Se todo esse barulho é por amor às crianças, por que o silêncio em relação às catorze mil crianças palestinas assassinadas por Israel? Você não recebeu as centenas de vídeos de crianças desmembradas, soterradas, carbonizadas por ataques israelenses? Adoraria ter você do meu lado, pressionando o governo federal a romper relações diplomáticas com Israel.

Outro argumento que você usa mais do que sua calça jeans preferida: "se não quer ter filho, entrega para adoção". Por que você fala tanto isso? É você que pretende adotar? Pensei em um Projeto de Lei que achei a sua cara: para quem defende a proibição do aborto, a adoção deve ser obrigatória.

Só não me venha com: "mas eu não tenho condições de criar uma criança". Deveria ter pensado nisso na hora que estava gemendo no Congresso, imitando feto falante morrendo.

Também não quero saber de "mas eu não tenho culpa, nunca quis ter filho, não fiz nada". Quando é uma mulher vítima de estupro falando isso, você não se comove.

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