Siga a folha

Lewis Carroll e a matemática do País das Maravilhas

Autor de 'Alice no País das Maravilhas' usou livro para falar de teorias matemáticas

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

“Bom”, disse Alice, “no meu país, correndo assim, teríamos chegado a algum lugar”. 

“É um país muito lento!”, respondeu a Rainha. “Aqui precisamos correr o máximo para ficar no mesmo lugar. Se quiser ir a algum lugar, tem que correr o dobro!”

O universo de “Alice do Outro Lado do Espelho” e “Alice no País das Maravilhas” está cheio de paradoxos que desconcertam e fascinam crianças e adultos há gerações. E a matemática está por toda a parte. “Vejamos: 4 vezes 5 é 12 e 4 vezes 6 é 13 e 4 vezes 7 é... nossa! Desse jeito nunca chegarei a 20!”, lamenta-se Alice.

Beyoncé, como Alice, Lyle Lovett, como a Lebre, e Oliver Platt, como Chapeleiro Louco - Disney Parks

Não surpreende, pois o autor, Lewis Carroll (1832-1898), era professor de matemática. Mas não se trata de mero jogo de contradições: há razões para crer que “Alice” também é uma sátira do modo como a matemática estava ficando mais abstrata.

Charles Dodgson (Lewis Carroll era pseudônimo literário) pertencia a uma família com tradições de serviço na igreja anglicana, e ele próprio tomou ordens religiosas. Tendo provado seu talento para a matemática nos estudos em Oxford, tornou-se professor da disciplina nessa universidade.

Teve grande interesse pela fotografia. Chegaram até nós fotos que tirou, inclusive das três irmãs Liddel, as jovens filhas do decano (diretor) de sua faculdade. “Alice no País das Maravilhas” começou com uma história que contou às meninas durante um passeio de barco. A do meio, Alice Liddel, o instou a colocar por escrito.

Conta-se que os livros de “Alice” chegaram ao conhecimento da rainha Vitória. Encantada, ela escreveu parabenizando e dizendo que adoraria ler as demais obras do autor. Travesso, Carroll enviou à soberana seu “Tratado elementar da teoria dos determinantes e aplicação à teoria das equações simultâneas lineares e algébricas”. Infelizmente, não sabemos se Vitória apreciou.

Profundamente conservador em tudo, Carroll repudiava as geometrias não euclidianas, os números imaginários e outros avanços da matemática. “Alice” está repleta dessa indignação.

“Diga o que quer dizer!” exige a Lebre. “Eu quero dizer o que digo, é o mesmo!”, retorque Alice. “Totalmente diferente!”, contesta a Lebre, “Por acaso, ‘vejo o que como’ é o mesmo que ‘como o que vejo’?!” Uma paródia da álgebra abstrata e suas operações não comutativas.

E a famosa cena do chá, com o Chapeleiro Louco, a Lebre e o Arganaz, seria uma sátira da teoria dos quaternions de William Hamilton (1805-1865). A teoria descreve os movimentos no espaço tridimensional, mas só funciona se considerarmos uma quarta dimensão, o tempo: sem ela só existem as rotações em círculos. No livro há um quarto personagem, o Tempo, mas ele saiu (a Rainha teria mandado cortar a cabeça) e, sem ele, os outros três são forçados a repetir seus gestos em círculos.

(Passando as contas de Alice, a coluna chegou ao número 4 vezes 25. É um enorme prazer escrevê-la. Muito obrigado aos leitores pela companhia!)
 

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas