Siga a folha

A álgebra, ciência das letras

François Viète foi o responsável pela consolidação do uso das letras na matemática

Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:

Oferta Exclusiva

6 meses por R$ 1,90/mês

SOMENTE ESSA SEMANA

ASSINE A FOLHA

Cancele quando quiser

Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.

Volta e meia, fascinado com o poder e o mistério da matemática que ele ainda não sabe, o meu filho me pede para lhe ensinar algum tópico mais avançado: raiz quadrada, equação de segundo grau etc. Um dia destes, o pedido foi “a álgebra”, que para ele significa “aquele truque de fazer contas com letras para descobrir o número”.

A matemática costuma ser chamada “a ciência dos números”, e não deixa de ser irônico que uma de suas maiores descobertas tenha sido como é importante substituir números por letras. Esse avanço foi fruto de gerações, mas tornou-se concreto com o trabalho do matemático e advogado francês François Viète (1540–1603).

A palavra "álgebra" teve origem no título do livro “al-kitab al-mukhtasar fi hisab al-jabr wa-l-muqabala” (Livro compêndio sobre cálculo por restauração e balanceamento), escrito entre 813 e 833 pelo matemático e astrônomo muçulmano Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi, o mesmo cujo nome nos deu "algoritmo" e "algarismo".

O uso de letras na matemática é um avanço fruto de gerações, mas principalmente graças ao trabalho do matemático e advogado François Viète - Alex Pylypenko/Flickr

"Al-jabr" refere-se à operação de transportar uma quantidade negativa de um lado da equação para o outro, onde ela se torna positiva (restauração). Já “wa-l-muqabala” é a passagem de uma quantidade positiva para o outro lado da equação, onde ela passa a ser negativa (balanceamento)

A palavra "al-jabr" significa "junção de partes quebradas" e foi levada pelos árabes para a Península Ibérica: até hoje, em regiões da Espanha e de Portugal um algebrista é uma pessoa que conserta ossos, uma espécie de ortopedista informal. O volume 2 do Dom Quixote menciona “um algebrista, com quem se curou o desgraçado Sansão”.

O trabalho de al-Khwarizmi foi traduzido para o latim por volta de 1140, mas o tradutor, Robert of Chester, se limitou a latinizar o título árabe: “Liber algebrae et almucabala”. Viète não gostava da palavra "álgebra", por não ter sentido nas línguas europeias: propôs "arte analítica", mas não pegou. Por volta de 1600, álgebra já tinha adquirido o sentido muito mais amplo de estudo das equações. ​

De então para cá, o escopo da álgebra se alargou de maneira espetacular, especialmente a partir do século 19, tornando-se cada vez mais abstrato. Em 1849, o matemático e lógico britânico Augustus de Morgan (1806–1871) já defendia que o objeto de estudo da álgebra são os símbolos e os modos como eles se combinam, sem que os respectivos significados tenham qualquer importância.

Falaremos na semana que vem da contribuição de Viète para esse estado de coisas.

Receba notícias da Folha

Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber

Ativar newsletters

Relacionadas