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Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

Descrição de chapéu Coronavírus

Quantas pessoas sofrem com Covid longa no Brasil?

Não há coleta de informações, e o que não é mensurado não pode ser resolvido

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A maioria das pessoas infectadas pelo coronavírus tem recuperação total, mas uma parcela desenvolve Covid longa, condição que afeta a capacidade de exercer rotinas diárias e a qualidade de vida. Em outubro de 2021, a OMS (Organização Mundial da Saúde) definiu que Covid longa "ocorre em indivíduos com histórico de infecção provável ou confirmada por Sars-CoV-2, geralmente três meses após o início da Covid-19, com sintomas que duram pelo menos dois meses e não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo".

Fadiga, falta de ar e disfunção cognitiva são os sintomas mais comuns, porém cerca de 200 sintomas, afetando múltiplos órgãos e sistemas, por vezes ocorrendo de forma concomitante, foram reportados com duração e severidade diversas.

Fisioterapeuta trabalha em reabilitação de paciente que teve Covid, em hospital em São Paulo - Rubens Cavallari - 13.mai.2021/Folhapress

O percentual de pessoas afetadas depende de características que podem aumentar o risco de sequelas, tais como obesidade e sobrepeso. A ocorrência de Covid longa é cerca de duas vezes maior entre adultos que foram infectados com a variante delta, em comparação com a ômicron. Independentemente da variante, o risco de desenvolver sequelas é menor entre vacinados. Indivíduos que tiveram Covid-19 severa (ou seja, foram hospitalizados) apresentam risco maior de desenvolver Covid longa.

Grande parte desse conhecimento foi gerado a partir de estudos feitos em países de renda alta do hemisfério norte e não necessariamente refletem a realidade de países de renda baixa e média. Apesar do número reduzido de estudos com crianças e adolescentes, já há evidências de que estes também são afetados pela Covid longa. Um estudo publicado no dia 10 de outubro utilizou modelagem de dados para estimar a proporção global de indivíduos que, três meses pós-Covid-19, desenvolveram os seguintes grupos de sintomas: fadiga, dor no corpo ou alteração de humor; problemas cognitivos; problemas respiratórios.

O estudo estimou que 6,2% dos indivíduos apresentaram pelo menos um dos três grupos de sintomas. A estimativa para o Brasil é de pouco mais de 6,1 milhões de novos casos de Covid longa em 2020 e 2021.

No Brasil não há uma campanha de conscientização e um esforço nacional de busca ativa de casos de Covid longa. Não há coleta sistemática de informações e, portanto, não se sabe ao certo o número de pessoas afetadas, de indivíduos cujas sequelas são debilitantes e impedem o retorno ao trabalho ou daqueles que morreram de forma prematura devido à Covid longa.

O que não é mensurado não pode ser resolvido. A ausência de dados torna difícil o planejamento adequado de serviços de suporte e reabilitação. Além disso, sem tratamento as sequelas da Covid-19 podem ter consequências mais severas do que aquelas reportadas em países de renda alta, especialmente entre indivíduos em condição de vulnerabilidade. Tudo isso torna piores as consequências da Covid-19, que já são devastadoras.

Mas esse não deveria ser o cenário no Brasil. Se ao invés de cortes sucessivos no orçamento da saúde tivessem sido feitos investimentos no fortalecimento do SUS e da Estratégia de Saúde da Família, o Brasil poderia ter um programa de busca ativa de casos de Covid longa, executado pelas equipes de saúde da família.

Não só não houve investimento, como o que foi mensurado continua a ser vergonhosamente negado. O último exemplo foi a fala do presidente, no dia 14, sugerindo que não houve mortes de crianças por Covid-19 no Brasil. Fala grotesca, desumana, um total desrespeito às 3.380 famílias que, desde 2020, perderam crianças e adolescentes para a Covid-19.

No dia 30 de outubro é preciso que vençam o respeito à vida, à verdade e ao SUS. É preciso!

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