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Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

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O estado nutricional do mundo em alerta

Há uma pandemia silenciosa em curso: o rápido aumento da obesidade na população mundial

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O mundo parece estar de "pernas para o ar". Uma pandemia, a atual epidemia de dengue com números jamais observados, recordes de temperatura e eventos extremos em todas as regiões do planeta, guerras, crises humanitárias e destruição ambiental.

Enquanto tudo isso acontecia (e acontece) há uma pandemia silenciosa em curso: o rápido aumento da obesidade na população mundial (inclusive em países ricos), ocorrendo em paralelo com o baixo peso. Silenciosa por não receber a atenção devida e, portanto, ainda não ter sido alvo de políticas públicas urgentes para prevenir uma crise de saúde pública. Dados divulgados recentemente pela rede de pesquisadores NCD-RisC, que estuda fatores de risco para doenças não transmissíveis, mostram que o percentual da população de adultos com 20 anos ou mais que era obesa passou de 6,8% em 1990 para 12,3% em 2022. Ou seja, mais de 984 milhões de adultos no mundo eram obesos em 2022 (em cada 100 indivíduos, 12 eram obesos).

Iniciativa da Federação Mundial de Obesidade busca retratar obesos em situações do dia a dia, como cozinhar, fazer exercícios e fazer compras, em vez de poses estigmatizadas, como consumindo fast food - World Obesity Federation

Entre crianças e adolescentes (19 anos ou menos), a prevalência da obesidade também aumentou entre 1990 e 2022. Cerca de 65 milhões de meninas e 94 milhões de meninos eram obesos em 2022. Já o baixo peso se reduziu na maioria dos países, tanto para adultos como para crianças e adolescentes.

No Brasil, dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, já vem mostrando essa tendência de aumento da obesidade e sobrepeso desde 2006 (quando o Vigitel foi lançado).

Conduzido em todas as capitais e no Distrito Federal, o Vigitel mostra que quase um quarto da população brasileira era obesa em 2023, o dobro do observado em 2006. Já a população com sobrepeso passou de 43% em 2006 para 61% em 2023. Entre adultos de 45 a 54 anos, o sobrepeso chega a quase 71%, enquanto 37% dos jovens de 18 a 24 já apresentam sobrepeso.

Entre crianças e adolescentes (faixa etária não contemplada pelo Vigitel), dados do NCD-RisC mostram que, no Brasil, cerca de 3% dos meninos e meninas eram obesos em 1990. Em 2022, 17% dos meninos e 14% das meninas eram obesos, enquanto cerca de 3% das crianças e adolescentes estavam abaixo do peso.

Importante ressaltar que, ainda que o relatório do NCD-RisC estime que tenha havido redução da população abaixo do peso, cerca de 43% da população brasileira enfrentava algum tipo de insegurança alimentar entre 2020 e 2022.

Estilo de vida sedentário, baixa frequência e duração do aleitamento materno, consumo de alimentos ultraprocessados e desigualdades sociais são alguns dos fatores que contribuem para a tendência de aumento da obesidade.

Ações para combater a obesidade não podem ser apenas direcionadas ao comportamento individual. Não adianta estimular atividade física sem garantir a segurança pública, tampouco promover dieta saudável se esta não for acessível aos mais vulneráveis.

Sem políticas públicas imediatas o cenário é preocupante. É esperado um aumento da prevalência de diabete tipo 2, problemas relacionados a hipercolesterolemia e hipertensão, problemas respiratórios, redução da mobilidade e sensibilidade nas articulações, queda da produtividade e transtornos mentais dentre outros. Enfim, uma queda na qualidade de vida e no capital humano.

Esses problemas se desenvolvem progressivamente, daí a necessidade imediata das políticas públicas para prevenir o pior. Sem elas, quem vai pagar a futura conta das consequências da obesidade? O SUS? O sistema privado? As famílias?

Em 1946, Josué de Castro escreveu "Geografia da Fome". Hoje, o título seria a geografia do precário estado nutricional. Que esse livro não precise ser escrito.

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