Marcia Castro

Professora de demografia e chefe do Departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública de Harvard.

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Marcia Castro
Descrição de chapéu Estados Unidos

A importância da análise de dados na saúde

Informação permite avaliação de tendências e riscos e auxilia a tomada de decisão

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O mercado financeiro não sobreviveria sem a análise de dados. É ela que permite a detalhada avaliação de tendências e riscos e que informa a tomada de decisão. Em jogo estão investimentos de empresas, nações e indivíduos.

Na saúde, a análise de dados também permite a avaliação de tendências e riscos e informa a tomada de decisão. Entretanto, o que está em jogo são vidas!

O Brasil coleta sistematicamente dados de nascimentos, óbitos, hospitalizações, vacinação, e agravos de notificação compulsória, dentre outros. Isso é feito em todo o território nacional. A riqueza e singularidade das bases de dados de saúde no Brasil é evidente quando comparada com outros países.

Nos Estados Unidos, por exemplo, não há bases sobre agravos de saúde unificadas nacionalmente. Há estados americanos que até hoje não possuem dados de morte por Covid-19 por raça e etnia.

No primeiro plano da imagem, há um celular em um suporte com a imagem de um médico em teleatendimento. No segundo plano, um notebook com uma estetoscópio vermelho.
28.mar.23 - Agência Brasil

Os dados coletados no Brasil são a fonte de muitas análises retrospectivas que revelam, por exemplo, fatores de risco, padrões de desigualdade, caraterísticas sazonais de agravos e características de grupos e áreas vulneráveis. Essas análises são muito importantes.

Porém, análises prospectivas que tenham a agilidade e rapidez das análises do mercado financeiro também são necessárias. Aqui ressalto três aspectos.

Primeiro, em áreas de difícil acesso que não possuem conexão digital a entrada de dados é geralmente feita com atraso. Isso compromete a rápida detecção de problemas e, portanto, prejudica a tomada de decisão. Impede, ainda, a promoção da saúde digital. Essa é a realidade de muitas comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia.

Aqui, a ação da segurança pública é fundamental para viabilizar o trabalho dos profissionais de saúde. Essa é uma das dificuldades na terra indígena Yanomami e em áreas controladas pelo tráfico de drogas.

Segundo, a riqueza dos dados de saúde coletados no Brasil seria ampliada caso as bases fossem integradas de tal forma que todas as passagens pelo sistema de saúde bem como os agravos que uma pessoa tenha tido ao longo da vida estivessem conectados. Ou seja, um histórico individual de agravos, atendimentos e procedimentos médicos, do nascimento à morte.

Esse histórico individual poderia ainda conter dados das localidades dos indivíduos, tais como cobertura e uso da terra, produção econômica e clima. Além da oferta de serviços nessa localidade, uma vez que também há dados sobre estabelecimentos e profissionais de saúde.

A integração das bases permitiria que o Brasil fosse pioneiro no uso de ciência de dados para a saúde, utilizando a maior e mais completa base de dados com o principal objetivo de reduzir a atual carga de doenças, prevenir cargas futuras e otimizar a oferta de serviços a fim de minimizar iniquidades.

Terceiro, de nada adianta coletar dados se esses não são analisados de forma rápida a fim de informar decisões estratégicas. A análise ágil, integrada e efetiva dos dados da saúde é fundamental para conter surtos e salvar vidas.

Uma plataforma que permita o uso dos dados coletados de forma ágil, integrada e efetiva para a tomada de decisão é uma demanda urgente. A ideia é simples, porém disruptiva.

Em um primeiro momento, contribuiria para melhorar as ações e serviços sendo prestados. Ao longo do tempo, permitiria que as ações do Ministério da Saúde focassem na prevenção e não na reação ao problema.

Tal plataforma seria a mola mestre para se ter um Ministério que seja prioritariamente um veículo de promoção de saúde e não um administrador de doenças. O Brasil pode (e deve) tornar isso uma realidade.

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