Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.
Lá, não pegou. Pegará aqui?
A fracassada tentativa golpista de Trump mostra do que o populismo é capaz quando derrotado
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Ao saber que a turba que cercava o Congresso americano, em 6 de janeiro de 2021, ameaçava aos gritos enforcar Mike Pence, o vice de Donald Trump, este comentou com seus próximos: "Talvez nossos apoiadores tenham a ideia certa."
A enormidade emergiu graças ao trabalho da Comissão Bipartidária da Câmara dos Representantes do país, criada para investigar o envolvimento do então mandatário na invasão da sede do Legislativo nacional. A comissão concluiu que Trump conspirou contra a democracia, mediante o que a deputada —republicana— Liz Cheney chamou de " plano sofisticado" para golpear os resultados do pleito.
O ataque contra a pedra de toque da democracia —a escolha livre dos governantes— incluía propagar mentiras sobre a integridade do processo; usar a Justiça para dar ares de verdade às invencionices de fraude; pressionar o vice-presidente para travar a apuração; chantagear os parlamentares dos estados onde o Partido Republicano detinha a maioria, a fim de melar a contagem dos votos; e, por fim, a convocação das ruas que levou à sangrenta invasão do Capitólio.
Aqui também, saído do mesmo lodo moral e político do trumpismo, é claro como o sol o plano de semear dúvidas sobre a possibilidade de virem a ser limpas as eleições deste ano para o Planalto, em outubro próximo. Os ataques não se limitam às investidas em série do presidente Bolsonaro ao mecanismo democrático.
Letícia Capone, pesquisadora do grupo Comunicação, Internet e Política, da PUC do Rio de Janeiro, vem acompanhando a movimentação da extrema-direita nas redes sociais. Ela identifica nítida sintonia entre a manipulação dos fatos por emissora de rádio bolsonarista e as notícias disseminadas nas redes, compondo um ataque ao processo eleitoral —e às urnas eletrônicas—, à Suprema Corte, e a três de seus juízes: Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre Moraes, presidentes em diferentes momentos do Tribunal Superior Eleitoral. Entre setembro de 2021 e maio último, circularam pelo Youtube 6.537 vídeos relacionados à forma de votação, ao STF e ao TSE, ou aos citados ministros, com centenas de milhares de visualizações.
Estudos sobre populismo destacam um roteiro comum. Democraticamente eleitos, populistas se dedicam a controlar as instituições ( Congresso, tribunais superiores, a mídia) e a fomentar a radicalização via redes sociais, para garantir a sua permanência no poder. A fracassada tentativa golpista de 2021 nos Estados Unidos mostra do que o populismo é capaz diante da derrota eleitoral. É a ameaça que paira este ano sobre a democracia brasileira.
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