Maria Hermínia Tavares

Professora titular aposentada de ciência política da USP e pesquisadora do Cebrap.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Maria Hermínia Tavares

Brasil foi participante ausente da Cúpula das Américas

Bolsonaro é incapaz de entender o mundo para além do seu condomínio na Barra

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Uma certeza, de saída: a Cúpula das Américas, reunida em Los Angeles na semana passada, não honrará nenhuma eventual lista de êxitos da política externa do presidente John Biden.

Expôs uma "diplomacia interamericana flácida", como disse Richard Feinberg, membro do Conselho Nacional de Segurança no governo Clinton e responsável por conceber a iniciativa, além de organizar a sua reunião inaugural, em 1994.

Imaginado para afirmar a liderança americana em face da ascensão da China e da guerra russa ao Ocidente —como a invasão da Ucrânia impede ignorar—, o encontro fez triste figura, a ponto de ser considerado por alguns analistas como indício a mais da perda de gás dos EUA no mundo.

Não faltavam temas para uma agenda ambiciosa de cooperação hemisférica que explorasse oportunidades —comércio e investimentos; proteção ambiental e energias limpas; infraestrutura sustentável; saúde— ou que lidassem com prementes problemas comuns: imigração, ilícitos internacionais, consequências duradouras da pandemia.

Faltaram (e muito) liderança e capacidade de costurar, em iniciativas concretas, os interesses compartilhados. Propostas vagas, objetivos imprecisos e muita indecisão concorreram para reduzir o evento a uma nonada.

O Brasil é sócio desse fiasco. A sua importância nas Américas faz do país participante obrigatório de qualquer iniciativa bem-sucedida de cooperação regional. Seja qual for o presidente de turno, haverá sempre uma cadeira a ele reservada para essas horas. Outro que não o atual teria ao menos aproveitado a ensancha para afirmar as expectativas e demandas nacionais em relação a um diálogo tão necessário quanto difícil, reduzindo talvez o visível vazio de coordenação.

Mas quem se assenta hoje no Planalto, incapaz de entender o mundo para além do seu condomínio na Barra da Tijuca, sequestrou o país para expô-lo ao ridículo. Tirou fotos para o Twitter —com as rechonchudas "vovós bolsonaristas", como se autodenominam, e com um contrafeito Biden; desfilou de moto em Orlando; falou bem de Trump; e assumiu compromissos que não pretende cumprir com o meio ambiente e a democracia.

Terminou cometendo a gafe das gafes para um chefe de Estado que se dê ao mínimo respeito: pediu ao homólogo americano ajuda contra Lula nas próximas eleições. Biden fez cara de paisagem, mas vazou o vexame que lhe deve ter ferido os tímpanos —um a mais no interminável rol de impropriedades, insultos e incontinências verbais indissociáveis da figura do ex-capitão. Presente em Los Angeles, só escancarou a ausência do país.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.